sexta-feira, outubro 06, 2006

DOIS DISCOS NOVOS: CÊ QUALQUER - CAETANO E ARNALDO







Dois lançamentos justificam o ano de 2006.
Um deles é o mais recente disco de Caetano Veloso, o mais novo dos novos discos de Caetano porque vem seguido da apresentação de uma nova fase. Existe no disco, que leva o nome Cê, palavra sintética, condensando o você, a postura de rock na formação da banda: guitarra, baixo e bateria. O jeito de usar a voz também está diferenciado em algumas faixas. Após 6 anos sem lançar um disco de inéditas, a não ser discos em parceria, trilhas de filme e como intérprete, Caetano apresenta um trabalho esperado. E nunca na história de sua discografia o poeta lançou um disco inteiro de autor. São 12 faixas novíssimas, só dele. Como todo artista de qualidade, Caetano está sempre renovando sua performance. Cê confirma isso. Lirismo, rock e letras afiadas dão o tom. A faixa Wally Salomão presta a justa homenagem ao poeta e amigo, abaixo transcrita. Ouça e leia o Cê, razão pra estar feliz no ano de 2006.

meu grande amigo
desconfiado e estridente
eu sempre tive comigo
que eras na verdade
delicado e inocente

findaste o teu desenho
e a tua marca sobre a terra resplandece
resplandece nítida e real
entre livros e os tambores do vigário geral
e o brilho não é pequeno

eu sigo aqui e sempre em frente
deixando minha errática marca de serpente
sem asas e sem veneno
sem plumas e sem raiva
suficiente










O outro é o mais novo de Arnaldo Antunes, lançado na mesma semana, traz a afirmação que sempre Arnaldo insinuou desde que firmou sua carreira solo, em 1992: a MPB. Se antes ele estava consagrada nesse gênero, o disco Qualquer reafirma essa identidade. Tanto os arranjos como o timbre do cantor dão a cara de um estilo particular de conceber a MPB. Gravado em 2 dias, Qualquer traz as parcerias de Arnaldo antes cantadas por outros, a escolha dessas parcerias trazidas agora no disco são as mais MPBS possíveis, destaque para As Coisas (com Gilberto Gil), Lua Vermelha (antes cantada por Bethânia), Eu não sou da sua rua (por Marisa Monte). A impressão é que o poeta elegeu do seu repertório de parceriaso que mais soava como MPB clássica e deu seu tom interpretativo nesse disco. As canções inéditas são também em parceria, mas a grande novidade do disco são essas reinterpretações que Arnaldo grava a partir de canções feitas para outros cantores.

Cê, de Caetano, Qualquer, de Arnaldo. E antes disso, os 2 novos de Marisa mais o Carioca de Chico Buarque, justificam a felicidade musical da canção brasileira. Os medalhões da MPB mostrando trabalhos novíssimos e belíssimos.
Para lá
Arnaldo Antunes / Adriana Calcanhotto



se toda escada esconde
uma rampa
ampara o horizonte
uma ponte
para o oriente
um olhar
distante

em volta de um assunto
uma lente
depois de cada luz
um poente
para cada ponto
um olhar
rente

e a montanha insiste em ficar lá
parada
a montanha insiste em ficar lá
para lá
parada
parada

diante do infinito
um mosquito
em torno de um contorno
gigante
cada eco leva
uma voz
adiante

decanta em cada canto
um instante
de dentro do segundo
seguinte
que só por um momento
será
antes

e a montanha insiste em ficar lá
parada
a montanha insiste em ficar lá
para lá
parada
parada