segunda-feira, setembro 12, 2011

LADODENTRO ENTREVISTA - ADÉLIA PRADO

A partir de hoje, LADODENTRO ENTREVISTA.

Entrevistas inéditas com poetas brasileiros produzidas por Diego Petrarca. Uma série de entrevistas serão apresentadas aqui com nomes de peso da nossa poesia e alguns autores da prosa também. Algumas das entrevistas foram originalmente publicadas no blog do Poemas no Ônibus,  entre 2010 e 2011, e a partir de  agora estarão hospedadas aqui. 

Basicamente, poesia, criação, processo criativo, apontamentos preciosos sobre a arte da palavra em breves e concentradas entrevistas, com os mais importantes nomes  que fizeram e ainda fazem a poesia em língua portuguesa ser uma arte maior aqui no Brasil.

Pra começar, Adélia Prado. A entrevista coincidiu com o lançamento do seu mais recente livro A duração do dia, Record - 2010.




Em sua opinião, a poesia está ligada mais ao gênero (forma) ou a linguagem (discurso)?

Adélia Prado - Toda poesia verdadeira (assim como toda arte), seja qual for o gênero, nunca é discurso, é forma.

Existe propriamente uma marca do discurso feminino na literatura? ou essa distinção inexiste em sua visão de leitora e poeta.

Adélia Prado - Toda obra carrega as marcas de sua origem. Acho quase impossível uma mulher escrever sem denunciar no texto que se trata de uma mulher. Mas mulher ou homem têm que produzir literatura, forma, que transcende as categorias de gênero. Seria maçante demais lidar com literatura feminina e literatura masculina. A beleza é andrógina.

O período sem lançar um livro inédito de poesia foi uma vontade de desenvolver outros gêneros ou a poesia precisa de um tempo para respirar, ser concebida?

Adélia Prado - A poesia não vinha. Eu tinha poucos poemas inéditos que não davam um livro. Não há o que fazer. É só esperar. Esperei. Sempre vale a pena! Não se faz arte com esforço.

Como você percebe o fato da poesia estar impressa nas janelas dos ônibus? conforme nosso projeto aqui de Porto Alegre, no sentido da poesia transitar fora dos livros, como nas canções, na arte gráfica, etc...

Adélia Prado - Acho muito bom. É ótimo ver pessoas lendo poesia em qualquer lugar. Afinal é ela o escopo de toda arte.

Alguns autores que motivaram a matriz da sua linguagem poética.

Adélia Prado - A escola me deu Olavo Bilac, Castro Alves, Alphonsus de Guimarães, Jorge de Lima, Olegário Mariano, Coelho Neto, Martins Fontes, Julio Diniz, Cecília Meireles. Mais tarde descobri Manuel Bandeira, Murilo Mendes e o grande Drummond. Ia me esquecendo de Casimiro de Abreu que fez parte do grupo dos poetas do tempo de escola.

De que forma a religiosidade passou a ser um dos seus temas? ou essa abordagem foi fluindo naturalmente em seu trabalho?

Adélia Prado - Não tenho a religião como tema. Faz parte da minha estrutura vital e só por isso pode fluir não apenas no que escrevo, mas no que penso, desejo e faço. E como só podemos falar do que experimentamos, ainda que sob a forma de desejo, acho que se justifica sua presença na poesia e na prosa que tenho a alegria de fazer.

A poesia deve fazer parte da cesta básica?

Adélia Prado - Sem poesia, sem beleza, sem humanização, não há cesta básica que alimente um homem.