segunda-feira, dezembro 26, 2005

AGUILAR E A BANDA PERFORMÁTICA


O paulista e artista plástico Aguilar, devoto de Hélio Oiticcica, montou em 1982 uma turma que movimentou a cena cultural de sampa, reunindo artes plásticas, poesia, canção e psicodelia, Aguilar e sua Banda Performática foi um fantástico projeto artístico. Nomes conhecidos fizeram parte da equipe: Paulo Miklos, Arnaldo Antunes, poucos anos antes de estourarem com os Titãs. Lanny Gordin, baterista dos anos setenta que tocou no disco Araçá Azul, de Caetano. As apresentações aconteciam em lugares públicos de Sampa: SESC pompéia, no MASP, em espaços de uiversidades. E tudo era permitido, a consagração de todos os gêneros de arte num só espetáculo: Aguilar gritava coisas surreais ao microfone, Arnaldo penteava discos de vinis, carregava pilhas de livros, e uma enorme tela era pintava ao vivo, concebendo na hora exata da apresentação uma figura nonsense. E era mais que isso. Não vi apresentção alguma, escrevo aqui sobre o que li a respeito desse grupo, a única coisa que escutei foi o disco, o único com a formação original lançado em 1982 que consegui este ano ligando pra Aguilar e pedindo. Em 2001 houve uma nova formação de grupo, mas o cd saiu com poucas músicas e nenhum integrante da de 1982, a não ser o próprio mestre Aguilar, que agitou tudo isso. O disco de 1982, chamado Aguilar e a Banda Performática traz 9 canções feitas coletivamente, abaixo a letra de Estranheleza, de Arnaldo, cantada no cd por ele e Go, sua namorada na época. Além disso, o material abre com a faixa Você escolheu errado seu super-herói e fecha com a homenagem ao muso Oiticcica: Parangolé. As faixas são manuscritas no encarte do disco, tudo é artesanal, independente, criativo e singular na sua proposta de unir canção poema declamação e pintura. A Banda Performática de Aguilar é uma re-visitação as intenções tropicalistas. E é genial!

Pétala de flor na bochecha,
Se enfeita, na mata, a menina preta.
Fanta-uva, doce corante,
Sou feliz, no pé verniz diamante.
Eê, êe,Eieiei iê,Eieiei iê eê,Eê eê!
Em Saturno há tempestades douradas;
No céu (no CÉU) eu tenho dez namoradas.
Tanta estranheleza me encanta,
Santa mulher com pele de planta.
Eê, língua de macaco ê,Eê, perna de serpente ê.
Miss mistério no stereo do som
Pérola, tudo tambor tão bom

quinta-feira, dezembro 22, 2005

TIME CAMPEÃO


Essa foto é um encontro da finaflor do lácio da poesia brasileira. Basta contemplá-la, ela já se escreve sozinha. Eu quero vestir uma camiseta com essa foto.

domingo, dezembro 18, 2005

PALCO E POETA


No dia 15 de dezembro de 2005, o poeta Diego Petrarca sobe ao palco do teatro São Pedro, para receber o prêmio de destaque na categoria In-Versus do Habitasul Revelção Literária na Feira do Livro, junto com outros vencedores. O livro com os textos premiados foi lançado nesse mesmo dia. O poeta Diego foi destaque com o poema Verbena, além de embolsar um dinheiro.

segunda-feira, dezembro 12, 2005

IN-VERSUS



O poeta Diego C. Petrarca foi um dos vencedores do Revelação Literária Palco Habitasul de 2005, pelo destaque no gênero In-Vresus (poesia). Este ano o concurso foi muito disputado, com inúmeros trabalhos em todas as categorias. Dia 15 de dezembro terá a premiação, no Teatro São Pedro, onde será lançada a antologia dos autores vencedores pela Artes & Ofícios. Confira.

http://www.cpovo.net/jornal/A111/N72/HTML/16NOITE9.htm

sexta-feira, dezembro 09, 2005

LUVAS DE PELICA



Ainda da série primeiras edições: esse é o original de Luvas de Pelica, livro independente que Ana Cristina Cesar lançou na Inglaterra, em 1980, quando cursava sua pós em tradução trabalhando num poema de Silvia Plath. Luvas de Pelica foi reeditado juntos com os 2 livros anteriores, em 1998, quando foi reeditado também seu primeiro livro: A teus pés.

quarta-feira, dezembro 07, 2005

ANSEIOS CRÍTICOS


Ensaios Críticos, Anseios Crípticos




O paranaense Paulo Leminski saiu da cena da literatura brasileira há quase quinze anos, mas ainda podemos perceber sua contribuição não apenas para a poesia pós-moderna como também para a teoria literária. Sabe-se muito do poeta Leminski, que começou publicando em 1975 um antiromance escrito em prosa poética ou, como ele mesmo dizia, em proesia, influenciado pela inovação de linguagem através da palavra montagem lançada por Joyce em Finnegans Wake. Depois Leminski publicou poesia, livros como Não fosse isso, Caprichos e Relaxos, Distraídos Venceremos, os póstumos La Via em Close, O Ex-Estranho. Escreveu também biografias como as de Cruz e Souza e Bashô, traduziu autores como Mishima e Jonh Lennon, esboçou novelas como Agora é que são elas, Guerra Dentro da Gente (infanto-juvenil), Gozo Fabuloso (inédita), fez inúmeras letras de música, introduziu a forma construtivista japonesa do haicai, assumiu a poesia visual fazendo verso na tela, no grafitti, no autdoor, na televisão, poesia sobre fotos e pinturas. Em sua produção poética foi modernista até o fim, incorporando como ninguém desde a grande ruptura de 22 até a poesia marginal dos anos 70. Paulo Leminski captou as mensagens mais básicas e vitais do modernismo brasileiro, que resultou uma poética afiada com a linguagem do seu tempo, através da síntese, da ironia, adicionadas a uma inclinação de poesia concreta à geléia geral do tropicalismo.
Além de tudo isso, Leminski fez também teoria literária. O livro Ensaios Crípticos, lançado em 1986, reúne uma compilação de textos teóricos sobre poesia, arte e literatura organizados pelo poeta e sua ex-mulher, também poeta, Alice Ruiz. Nesse livro Leminski apresenta-se como grande conhecedor da nossa história literária através de um texto leve e didático, informativo, diferente do que se costuma ler em teoria literária, quando a linguagem se faz acadêmica e dificultosa. O fato de esses textos estarem longe de um academicismo, não compromete a contribuição de Leminski para crítica literária. Em tom de crônica, de ensaio, de texto para sala de aula, Ensaios Crípticos revela um autor que, além de poeta inventor, foi também informado refletindo sobre o andamento da literatura brasileira e das artes que a ela estão relacionadas.
Um dos textos desse compilado teórico de Leminski é Teses, Tesões. Nesse texto, o autor de Catatau expõe uma comparação entre as práticas poéticas anteriores e posteriores ao ano de 1922, explosão e surgimento da poesia moderna liderada por Oswald e Mário de Andrade. Escreve Leminski na abertura do texto: "Com o modernismo de 22, o poeta brasileiro largou de ser aquele bom selvagem, doce bárbaro, indígena silvícola, nativo do país da linguagem, a ser estudado, pensado e falado por esses etnólogos vindos das poderosas regiões da Teoria, caras pálidas, que hoje chamamos críticos". Na abertura do texto, o poeta atenta ao fato de que, antes da ruptura antropófaga, o poeta poetava e o crítico criticava, teorizava a respeito do poema. A verdade é que Paulo Leminski estava certo, nenhum poeta brasileiro significativo do século XIX pensava o exercício da reflexão sobre o fazer poético. No modernismo de 22, a poesia veio calcada de teoria, e só passou a existir devido ao esforço teórico de seus autores para consolidar suas propostas de vanguarda importada do modelo europeu via Oswald de Andrade. Toda proposta desse autor nasceu colada em teoria, quase complemento do que fazia em literatura: Manifesto Antropófago, Poesia Pau-Brasil, todas suas revoluções de forma e conteúdo trouxeram junto a necessidade da teorização, da explicação das propostas. Leminski ainda aponta que Mário de Andrade, outro líder modernista, chegava a ter a contribuição da sua poesia quase esmagada pela teorização, sobre escrever sobre a ação poética, havia força e novidade tanto em sua literatura desvairada quanto na sua crítica bem aplicada: "toda tentativa de mudança exige reflexão, é preciso repensar a rota" afirma o teórico Leminski, que compara os poetas anteriores ao ano de 22 como sonâmbulos que seguiam os automatismos da tradição herdada dos modismos: "A poesia era uma resposta, 22 a devolveu a sua condição de pergunta". No mesmo artigo Leminski ainda fala em Drummond, quando o poeta mineiro lançou em 1930 seu primeiro livro Alguma Poesia, o grande herdeiro das riquezas do modernismo brasileiro incorporou a reflexão ao fazer poético, de forma explícita, e boa parte da produção do Itabirano consiste nessa reflexão: "lutar com palavras / é uma luta vã...".
A grande questão que Paulo Leminski aborda em seu texto é que o grande desafio está em definir a poesia depois das conquistas modernistas, considerando o fato de que não se sabe mais onde está a poesia ou para onde ela vai. Em que consiste afinal esse ato discursivo lógico/não-lógico em que toda liberdade é cabível? Onde está, afinal, o sentido? Para tanto, Leminski se apropria das definições de alguns poetas consideráveis da nossa literatura que atuaram justamente nessa época em que o dilema poesia se estabeleceu após o modernismo. Quem não reflete, repete. Para Vinícius de Moraes a poesia tem sentido na audição: música popular; para João Cabral de Mello Neto: na visão, arquitetura, arte plástica. A poesia concreta recupera Cabral e gera um campo mais amplo, rigoroso e radical do que o Modernismo, a teoria é valorizada e até mesmo não faltou quem dissesse que, na poesia concretista, faltou poesia e sobrou teoria. Leminski, ao falar da sua produção, afirma ter sentido a necessidade de reflexão, pois atrás dele estava todo um exemplo de modernidade, de Oswald até o Concretismo, em meados dos anos 60 e 70 não havia mais espaço ao "bardo ingênuo e puro" e inovação e comunicação (duas tendências irreconciliáveis) eram essenciais a uma prática poética agora pós-moderna. Não está errada a idéia de que tudo o que veio depois do modernismo Oswald/Concretismo em poesia brasileira parece dialogar e exercitar todas as aberturas permitidas pelas poéticas anteriores. A possível contribuição da poesia pós-moderna talvez tenha sido assumir e consolidar a confluência das práticas modernas, assumidamente heterogênea e libertária. O exemplo disso é a própria poesia de Leminski, ao mesmo tempo Oswaldiana e concreta, filtrada pela síntese do haicai. Como disse ele: "Preferi apresentar no espaço-tempo de um só livro, o panorama de um pensamento mundano". Muitos poetas, por estarem cientes da necessidade de reflexão para a busca de inovação ou mesmo para a compreensão despretensiosa de uma poética, tornam-se não mais poetas, mas teóricos, professores de literatura, críticos.
Paulo Leminski foi de fato um poeta notável, por vislumbrar a necessidade de uma reflexão e conseguir fazê-la no livro Ensaios Críticos, paralelamente a sua produção poética.



Texto publicado no site da revista virtual Pálavora, da Uniritter, em junho de 2004.

CENAS DE ABRIL

Acervo Waldemar Corrêa



Dando seguimento aos livros independentes de Ana C. Este é o original de Cenas de Abril, lamçado em 1979, primeiro livro publicado pela autora carioca. E linda! Ana C. ainda publicou em 1980, na Inglaterra, Luvas de Pelica, em breve por aqui.

A Ponto de Partir

A ponto de
partir, já sei
que nossos olhos
sorriam para sempre
na distância.
Parece pouco?
Chão de sal grosso,
e ouro que se racha.
A ponto de partir, já sei que nossos olhos sorriem na distância.
Lentes escuríssimas sob os pilotis.

quarta-feira, novembro 30, 2005

A TEUS PÉS, ANA C


Foto tirada do acervo de Waldemar Corrêa



Livro de estréia da poeta carioca Ana Cristina Cesar, lançado originalmente em 1982. O volume inclui os três título anteriores que a autora editou, de forma independente, entre 1979 e 1980. Essa é a primeira edição, lançada pela editora brasiliense, que abrigou boa parte dos poetas marginais dos anos 70, onde Ana C. se destaca com propriedade, por ser uma das poucas autoras do sexo feminino, com uma poesia excitante, de tão boa. Os livros alternativos de ana Cristina, incluídos nessa edição são: Cenas de abril, Correspondência Completa, de 1979, e Luvas de Pelica, editado na Inglaterra em 1980, quando a poeta escrevia sua tese de mestrado, a segunda, sobre a tradução de um poema da escritora Sylvia Plath. Ana Cristina escrevia também ensaios sobre literatura, formou-se em teoria literária, sua tese sobre a filmagem de Joaquim Pero de Andrade do livro modernista de Mário de Andrade Macunaíma, intitulada Literatura Não é Documento, norte da sua pesquisa orientada por Heloísa Buarque de Holanda em 1978, foi lançada em livro. Em 1998, através do poeta eamigo pessoal de Ana Cristina, Armando Freitas Filho, o livro A teus pés, foi reeditado, e depois vieram Inéditos e Dispersos (poemas póstumos) Correspondência Incompleta (cartas). Existe também os livros de ensaio, Escritos no rio, de 1993, e escritos na Inglaterra, onde se vê uma poeta destacando-se também como ensaísta, clara e coerente. Ana Cristina suicidou-se em 29 de outubro de 1983, atirando-se do sétimo andar do seu prédio em copacabana, no Rio de Janeiro. Era linda, e escrevia poesia como poucos, e imprimiu na literatura brasileira pós moderna uma marca, um estilo, que muitos percorrem. Ela que veio do seio da poesia marginal, superou essa moda e distanciou-se muito delas que, muitas vezes, pretendia apenas instantes diretos e espontanêos do cotidiano. A poesia de Ana C. foi além. Minha vida um dia irá além para encontrá-la.


é muito claro
amor
bateu
para ficar
nesta varanda descoberta
a anoitecer sobre a cidade
em construção
sobre a pequena constrição
no teu peito
angústia de felicidade
luzes de automóveis
riscando o tempo
canteiros de obras
em repouso recuo
súbito da trama

terça-feira, novembro 29, 2005

MANUEL BANDEIRA


Auto-retrato Provinciano que nunca soube
Escolher bem uma gravata;
Pernambucano a quem repugna
A faca do pernambucano;
Poeta ruim que na arte da prosa
Envelheceu na infância da arte,
E até mesmo escrevendo crônicas
Ficou cronista de província;
Arquiteto falhado, músicoFalhado (engoliu um dia
Um piano, mas o teclado
Ficou de fora); sem família,
Religião ou filosofia;
Mal tendo a inquietação de espírito
Que vem do sobrenatural,
E em matéria de profissão
Um tísico profissional.

sábado, novembro 26, 2005

MANUSCRITOS


Manuscrito da letra de Os barcos, escrita por Renato Russo para o álbum O Descobrimento do Brasil, de 1993, com direiro a dia, hora e lugar. Renato Russo é vivo!

quarta-feira, novembro 23, 2005

HAICAIS MANUSCRITOS



Haicais manuscritos de Paulo Leminski, do livro Winterwerno. E um inédito feito com Alice Ruiz, que respondeu num outro haicai. Pequenas iluminações impressas.

REVISTA MTV

A Revista MTV 54 traz uma matéria de uma página com o poeta Diego Petrarca sobre seu trabalho com poesia. Além de trazer a Pitty na capa. Olham na banca!

PARALELAS


Alice Ruiz e a cantora Alzira Espíndola se juntaram para lançar o disco que junta e anuncia uma nova parceria dessas duas mulheres. Para Alice, poeta e haicaísta, não é novidade tansformar seus poemas em canções. Arnaldo Antunes e Itamar Assunção, por exemplo, já musicaram alguns de deus poemas. Um de seus livros de poesia chama-se Poesia para Tocar no rádio, isto é, a relação da autora com a música barsileira não é de agora, ela própria pertence a uma geração de poetas, como Paulo Leminski, com quem foi casada, que viu a poesia migrar das páginas livrescas para as canções, para as massas, para a publicidade e afins. Alice construiu isso também. Paralelas é um acerto poético/sonoro. O disco, independente, outro mérito, foi lançado pelo selo de Zelia Duncan, que participa do disco com Arnaldo Antunes. Pude assistir uma apresentação delas, no lançamento do cd, na Feira do Livro, que contou com a participação luxuosa de Estrela Leminski, filha de Alice e Paulo Leminski, na percussão. As canções são intercaladas com a leitura de alice dos poemas, uma espetáculo que me emocionou, por razões tantas, sobretudo por poder rever Alice e Estrela ali, juntas, perto de mim, falando comigo, é um pouco como se Leminski estivesse ali por perto, nos observando. Sai dali extasiado e certo de que a poesia cresce e permanece em mim, o que me segura. Alice Ruiz e Alzira Espíndola em

Paralelas:


Amor que se dedica
amor que não se explica
até quando se vai
parece que ainda fica
olhando você sair
sabendo que vai cair
deixar que saia
deixar que caia
por mais que vá sofrer

é o jeito de aprender
e o teu caminho só você vai percorrer
se você vence, eu venço
se você perde, eu perco
e nada posso fazer
só deixar você viver

TOMIE OHTAKE

Poema de Diego C. sobre imagem de Tomie Ohtake.


Em 1973/74, a artista plástica Tomie Ohtake, tem início uma fase de pinturas construídas com forte acento geométrico em cima de perfeitas linhas curvas que circunscrevem círculos, arcos ou partes de esferas. Estas formas, que agora se expressam plenamente, estão colocadas sob uma superfície homogênea que quase esconde os movimentos do pincel. As telas emanam um profundo silêncio e uma grandiloqüência cósmica. Após 1986, deixando de utilizar a tinta a óleo e passando para a acrílica, Tomie irá retomar o conteúdo orgânico e o movimento gestual que estiveram presentes na década de 60. A pintura que ela passará a fazer desde então, até os dias de hoje, caracteriza-se pela presença de formas circulares ou elípticas de contornos irregulares, uso de cores de intensa luminosidade, rastros de largos gestos ou manchas e a incorporação do acaso que aparece circunstancialmente na tela durante o processo de feitura da obra.

Em 1998, foi lançado o álbum YU-GEN, com poemas de Haroldo de Campos sobre gravuras em metal de Tomie Ohtake. www.institutotomieohtake.org.br/

CAIO F.



A editora Agir acaba de lançar uma antologia do escritor gaúcho Caio Fernando Abreu, Caio 3D o Essencial da década de 1980. Antes desse, a mesma coleção lançou o Essencial da década de 70, reunindo os melhores contos de Caio desde seu primeiro livro, Inventário do Irremediável, escrito no fim dos anos 60, passando pelo O Ovo Apunhalado, de 1975, Pedras de Calcutá, de 1977, além de um conto inédito lançado numa antologia de 1976. O Essencial da década de 80, reúne os contos de Morangos Mofados, de 1982, Os Dragões não conhecem o paraíso, de 1988, além de escritos inéditos, cartas, poemas. Caio ainda lançou em 1983 três novelas, Triângulo das Águas, sobre os signos de água, um belo e poético trabalho. Reunir o melhor de Caio, se é que existe esse melhor, afinal em Caio F. tudo é o melhor - mas não o melhor de si, porque o melhor de si era ele mesmo - é uma forma de reafirmar a importância desse autor de estilo definido, lírico, violento, que expressou como poucos a atmosfera das cidades urbanas, do sentimento e das relações humanas entre a paranóia das metrópoles, assim como os anseios da sua geração. Reler Caio é purificar-se de tudo. Caio escreveu teatro, crônicas (Pequenas Epifanias) e resenhas de livros muitos. E epifania é a palavra ideal para traduizr o que a leitura de seus textos nos instauram, são revelações divinas da essência do humano. Cada leitura de Caio é conhecer Caio. Para mim foi a descoberta de um grande escritor que percorreu minha adolescência, e percorre. E percorrerá. Na feira do livro de 1995 pude vê-lo de perto, trocar poucas palavras e autografar dois livros. Queria muito mais. Caio é o escritor-chave da minha formação. Natural que seja assim. E é o anjo que eu rezo toda vez que vou escrever alguma coisa.

terça-feira, novembro 22, 2005

ONQOTÔ

Onqotô é o nome da trilha que Caetano Veloso e Jose Miguel Wisnik compuseram em 2003 para os 30 anos do grupo de dança mineiro Corpo. O ano de 2004 serviu para a montagem da coreografia a partir das canções novas feita pela dupla. Caetano compôs sozinho Madre Deus, interpretada por Wisnik, que compôs sozinho a canção Pesar do Mundo, interpretada pelos dois. A canção-emblema da trilha, chamada Big bang bang, foi composta em parceria, letra e música, e foi de onde partiu todo o conceito do espetáculo idealizado por Wisnik e Caetano. A partir da frase de Nelson Rodrigues: O fla-flu começou 40 minutos antes do nada. Daí Caetano puxou a frase que abre a canção: se tudo começou no big-bang/ só tinha que acabar no big mac. Uma busca pela origem de tudo. E Caetano canta a faixa-núcleo como quem lesse uma letra de rap, a letra cita a ruídos verbais e inclusive a frase de Nelson Rodrigues. Exatamente a partir desse conceito, monta-se a trilha de Oqontô, reprodução do mineirês de Onde é que eu estou. O neologismo é inevitável. Caetano ainda musicou a última estrofe do canto v de Os Lusíadas e Wisnik, põe melodia em Mortal Loucura, do poeta baiano arcadista Gregório de Mattos. Referências, poemas, tudo parece amalgamar-se a coreografia do grupo. Cada gesto, ato, parece refletir, parece responder a cada sílaba de cada canção na hora em que se vê o espetáculo. Obviamente é possível ouvir o disco sem estar diante da dança, mas presenciar cada canção norteando as movimentações dos bailarinos é uma catarse maior, indispensável. O grupo corpo agora percorre a europa com o espetáculo. Para Caetano é uma coisa nova, ele nunva havia antes composto para dança, Wisnik já dividiu a tarefa para o mesmo grupo com Tom Zé. Oqontô, quando se vê/ouve, expulsa o universo desse universo, porque ali tudo é UM.


Se tudo começou no big-bang
só tinha que acabar no big-mac
mas se a partida já estava começada
a 40 minutos antes do nada
então
é maracanã lotado de pulsão
demais
e
o
sopro-divino criador
cantou
faça-se a luz
flatho-flou
fiat-lux
pstyx
e
expulsou
o universo
do universo
um

NAVILOUCA


Os poetas Torquato Neto e Wally Salomão lançaram em 1974 a única edição de Navilouca, revista de poesia que, infelizmente, o grande Torquato não pode ver impressa. Desde 1972, quando ela começou a ganhar forma, já se esperava uma obra que ficou como um marco da produção contracultural da época, uma revista que corria por fora dentro do circuito de poetas-inventores que surgiram entre os anos 60 e 70. A edição conta ainda com a participação luxuosa da tríade concretista, que de algum modo apadrinhou a geração desbundada da poeisa brasileira que corria muito pela canção nos anos de chumbo. Uma revista de arte, arte poética e gráfica. Almanaque dos Aqualoucos, ali Torquato escrevia em letras gigantes: O poeta é a mãe das artes e das manhas em geral. Uma obra-farol, registro de uma época em que a poesia brasileira tomava novo corpo, outros rumos. A edição é raríssima. Mas eterna.

VIA CINEMASCOPE



Via Cinemascope é um livro independente do poeta Diego  Petrarca, concebido em 2004 e lançado nos primeiros dias de 2005, pela Fábrica de Livros. A capa é da artista plástica Camila Schenkel. Via Cinemascope traz poemas breves, longos, sílabas cortadas espalhadas pela página, textos sobre imagens, poemafotos. Existe um apelo visual na relação palavra imagens em preto e branco que pode parecer interessante. A definição de uma forma? o esboço de uma forma? leia, veja, ou jogue fora nas confusão das prateleiras. Antes desse, o autor lançou Mesmo, 2003, um livro-xérox em 2002, Banda, além de 2 antologias por editora convencional e um de contos e crônicas em 1998, chamado Nova Múisca Nossa. Via Cinemascope parece estar seguro de um estilo, de uma forma de expressão com a linguagem que se relaciona com o não verbal para justamente adensar o verbo, a palavra, solta pela página, desmontada em letras. Um livro para ler/ver e talvez ouvir, porque existem poemas em que o ritmo é gritante, e o som é vivo. Está a venda na Ventura Livros (Marechal Floriano 439) e na Banca da República, somente em Porto Alegre. Matriz, poema do livro:


Pudesse ser
sujeito periférico
resgatando a bagunça
dos critérios
Quisesse ser
segredo histérico
descartando lances
de mistério
Mas apenas permanece
algum longo descuidado
jeito sério

POLANAISES


O poeta Paulo Leminski, antes de lançar seu calhamaço explosivo Catatau, em 1975, lançou 2 livros de poemas independentes, feitos na gráfica da agência ZAP onde trabalhava. Em 1980, 25 anos atrás, saia Polanaises e Não Fosse Isso e Era Menos Não Fosse Tanto e Era Quase. Essas edições, de poucas tiragens, são itens de colecionador, raridades do poeta paranaense. Essas obras guardam uma luz particular, pois, além de serem os primeiros livros de poesia de Leminski, jamais foram reeditados e salientam a atitude herdada dos poetas marginais dos anos 70, como Ana Crsitina Cesar, Chacal, Cacaso, regis Bonviccino, etc... de lançar suas obras do próprio punho, do bolso mesmo. Leminski fez o mesmo com Catatau, porém, esse teve algumas reedições por editora convencional, mas Polanaises e Não Fosse Isso existiram para serem assim, a margem, e com certeza são um dos mais importantes livros de poema de Leminski. O poeta teve, do seu modo, sua relação com a litertaura alternativa, ambiente literário que ele alçou voô e foi uma das referências, apesar se sempre estar a margem dessa mesma margem, sem pertencer ou querer pertencer a movimento algum. Os 25 anos desses 2 livros fazem a poesia de Leminski nunca ser apagada. Como nunca foi nem será.

VENENO ANTIMONOTONIA


O que será que que João Cabral e Cazuza tem em comum? ou Ferreira Gullar e Adriana Calcanhotto? Murilo Mendes e Caetano Veloso? Manuel Bandeira e Aldir Blanc. Pois aos olhos do poeta e oganizador da antologia Veneno Antimonotonia, esses nomes tem em comum a poesia. E eu endosso. Há muito se sabe que a poesia migrou das páginas dos livros para as rádios, para a canção, para um público de massa que ouve poemas pelas ondas sonoras. A poesia da canção é poesia tanto quanto a poesia do papel. Essa antologia parece reafirmar essa certeza e reúne poetas para um único objetivo: a escrita contra o tédio. O verso de Cazuza dá título ao material. Todos poetas querem bradar contra o tédio e esse foi o critério do organizador, poemas que expresssassem uma aversão ou uma resposta ao tédio. Os melhores poemas e canções contra o tédio. Nessa obra Drummond convive com Chico Buarque que convive com Murilo Mendes que convive com Armando Freitas Filho. Uma seleção de se admirar e se alegrar, naturalmente.

E como dizia Bandeira: Eu tomo alegria!

segunda-feira, novembro 21, 2005

FOLHA EXPLICA CAETANO


A coleção Folha Explica traz Caetano no seu 68 número. O escritor Guilherme Wisnik enfrenta o desafio de apresentar Caetano Veloso, considerado uma das mais inexplicáveis personalidades brasileiras --não apenas por ser um artista polêmico e camaleônico, mas também por se tratar de alguém que não cansou de se auto-explicar ao longo dos seus 40 anos de vida artística. O livro é dividido nos capítulos: "Arestas Insuspeitas", "O Corpo Morto de Deus Vivo e Desnudo", "Acordes Dissonantes pelos Cinco Mil Alto-Falantes", "Transa qualquer coisa jóia, bicho", "Lançar Mundos no Mundo", além de uma discografia e cronologia da vida e obra do artista e sites e bibliografia para quem deseja aprofundar-se no assunto.

O MUNDO NÃO É CHATO


Caetano Veloso é um gênio. E genializa quem o cultiva como gênio. Chega nesse mês o novo livro dele. O Mundo Não é Chato, que reúne textos escritor ao longo das décadas. Cinema, literatura, música, tudo passa pelo olhar de Caetano. Organizado pelo poeta Eucanaã Ferraz, que em 2003 organiozu Letra Só (letras de música) recolhe artigos para revista, jornal, releases, contracapas, para formar um mosaico do pensamento de Caetano. O núcleo desse pensamento, segundo o prefácio do organizdor, é a posição política de Caetano sobre os assuntos que aborda. Não que ele discorra sobre política, mas o tom, a dicção, traz uma unidade de visão política sobre a cultura, sobre seu trabalho, sobre tudo. Uma das raridades do livro, são os textos que Caetano escreveu em Santo Amara, em 1961, quando esboçava um ofício de crítico de cinema, antes de ser um astro da mpb. Portanto, de 1961 a 2005, os escritos de Caetano passam por assuntos muito pertinentes com o que ele aborda nas suas canções. Os ensaios reunidos nesse livro, reafirmam a importância do Caetano Veloso pensador, uma referência, um farol para as gerações que o perseguem.

CÍCERO


Antonio Cícero é filósofo e poeta. No fim dos anos setenta começou a ter musicado seus poemas pela sua irmã, Marina Lima. Com ela Cícero fez inúmeras parcerias, algumas de grande sucesso nacional. Além disso, tem livros publicados. O Mundo Desde o fim é de 1991, texto de filosofia desenvolvido pelo autor ao longo dos anos. Mais tarde, em 1996, lançou o livro de poemas Guardar, e em 2002, A Cidade e os Livros. Agora Cícero volta com Finalidades Sem Fim, um livro de ensaios sobre filosofia, poesia, canção compilados ao longo das décadas. Uma mostra eficiente do desenvolvimento desse artista, do pensador Antonio Cícero, sempre claro, lúcido e coerente na apresentação de suas idéias, por mais complexas que estas se apresentem. O título vem de uma de suas letras, O Circo, já gravada por Maria Bethânia. E Cícero ainda anuncia um novo de poemas até fim desse ano. Aguardaremos.

SE

Se falasse

como quem desfalecesse

talvez não merecesse

a muda dicção

de quem calasse


se calasse

como quem não esclarece

talvez esfacelasse

o som da voz

de quem falasse

MAIS DO MESMO


MAIS DO MESMO