O escritor e poeta Fabrício Corsaletti gentilmente respondeu, e rápido, algumas perguntas sobre seu mais recente trabalho: Quadras Paulistanas, lançado ano passado pela Companhia das Letras. O livro já foi tema de uma das postagens deste blog e recupera de forma criativa o formato quadra, misturando crônica e poesia destacando aspectos cotidianos da cidade de São Paulo. O olhar do autor está atento a cada detalhe de Sampa, vê-se que o Corsaletti é íntimo da megalópole. Nessa conversa, o autor comenta mais sobre seu projeto mais recente e o processo de elaboração da obra. Confere aí.
O que motivou o formato do
poema em quadra para compor a série do livro?
Minha coluna quinzenal na revista "São
Paulo", do jornal folha de São Paulo. Com a brevidade das quadras,
descobri que poderia tratar de muitos assuntos, assuntos sobre os quais talvez
eu não tivesse mais do que 4 linhas pra falar.
No seu ponto de vista, além do
aspecto sonoro e da brevidade, quais outros aspectos da quadra são propícios a
uma função poética de linguagem?
A rima é algo que me atrai. E ela se sobressai,
ganha uma força enorme na quadra.
Você concorda que a quadra é
um modo de aproximar a poesia do leitor comum? (até pelo histórico popular da
tradição da forma) e também pela estrutura lúdica, sonora, com um apelo
comunicativo, a ponto do poema/quadra soar próximo a um slogan
publicitário?
Sim. Mas não vejo a quadra tão próxima do slogan
publicitário. Penso que tem mais a ver com a infância das pessoas, com o
batatinha quando nasce e coisas assim.
Em Quadras Paulistanas o
cotidiano é um tema relevante, do mesmo esse tema é recorrente em sua poesia de
um modo geral. Quais outras marcas da sua poética estão presente também em Quadras
Paulistanas?
Não sei. Não me preocupo com isso. E acho que um
artista não deve avaliar o próprio trabalho. Essa é a tarefa do leitor, do
crítico.
Existe alguns teóricos que lhe
comparam a poesia moderna a partir das propostas de 1922, a concisão, o
coloquialidade, o humor, típicos de Oswald de Andrade ou aos primeiros livros
de Drummond, você concorda que suas Quadras são influenciados por
esses exemplos?
Sim. Sempre acreditei que eu não teria escrito um
único verso na vida se não tivesse lido os poetas modernos brasileiros.
Em sua poesia não é comum a
utilização exagerada de metáforas ou um rebuscamento de linguagem, se dá mais através
do efeito, nesse sentido é como se fosse uma prosa distribuída habilidosamente
em versos? ou seja, você evita o "poema" para fazer sua poesia?
Sim e não. Leio muita prosa e imagino que minha
escrita seja influenciada por ela. Desde os 25 anos eu próprio escrevo prosa -
tenho um livro de contos, uma novela, crônicas. Quanto à minha poesia... sei
que tenho usado poucas metáforas, mas a verdade é que não penso mais nesses
termos. Só quero saber se a imagem funciona, e essa imagem pode ser uma descrição,
uma narrativa, uma comparação, uma metáfora etc. o nome não importa. Não gosto
quando a metáfora se torna um ornamento, uma sobra. É a velha frase do
Hemingway: "prosa é arquitetura, não decoração de interiores". Poesia
pra mim também é isso.
Alguns autores dos quais você
não consegue se livrar, mesmo que você disfarce, e sempre acabam conversando
com seus textos. E alguns poetas da canção te dizem tanto quanto os poetas
livrescos.
Eu não disfarço nada. Aceito minhas influências,
minhas obsessões. Sou grato aos poetas modernos brasileiros, aos poetas
compositores brasileiros, a Bob Dylan, aos prosadores norte-americanos
(Hemingway, Faulkner, Fitzgerald, Carver, Salinger), a Rubem Braga, a Rimbaud,
a Apollinaire etc. sem eles, eu não faria nada ou faria muito pior. Não penso
neles quando vou escrever, mas sei que um ou outro sempre aparece nos meus
textos. E está tudo bem. A criação não é pura. A pureza não é algo deste mundo.
Não é de hoje, sua geração já
trabalha tendo a internet como veiculação da obra. Você sugere que os autores
novos antes de chegar ao livro devam circular na internet? até como um modo de
perder o ineditismo? isso é válido, uma vez que a internet é um "vento
onde tudo cabe".
A internet é maravilhosa nesse sentido. Não sugiro
nada aos jovens autores porque acredito que cada um tem que encontrar seu
caminho. A internet pode ser um deles - sei que é para muitos.
Uma de suas marcas
é a abordagem da memória como um modo de resgatar uma outra identidade, ou
reinventar a memória com sensibilidade lírica do presente. Isso foi uma decisão
planejada ou poemas foram nascendo assim?
Foram nascendo assim.
Em suas práticas
de oficina literária, o que costuma repassar aos alunos?
De poesia, dei
apenas duas oficinas. Li com os alunos poemas que me agradavam e mostrei a eles
por quê. Depois cada um escrevia o que quisesse e discutíamos os textos
produzidos. Fico um pouco tímido em oficinas de poesia. É como se estivesse
esquartejando minha mãe em público. Mas nas de prosa me sinto à vontade. Tenho
muitas aulas preparadas sobre aspectos da linguagem que me interessam, como
precisão, descrição, estranhamento, e outras em que analiso contos de autores
que admiro lendo-os junto com os alunos.