quarta-feira, novembro 30, 2005

A TEUS PÉS, ANA C


Foto tirada do acervo de Waldemar Corrêa



Livro de estréia da poeta carioca Ana Cristina Cesar, lançado originalmente em 1982. O volume inclui os três título anteriores que a autora editou, de forma independente, entre 1979 e 1980. Essa é a primeira edição, lançada pela editora brasiliense, que abrigou boa parte dos poetas marginais dos anos 70, onde Ana C. se destaca com propriedade, por ser uma das poucas autoras do sexo feminino, com uma poesia excitante, de tão boa. Os livros alternativos de ana Cristina, incluídos nessa edição são: Cenas de abril, Correspondência Completa, de 1979, e Luvas de Pelica, editado na Inglaterra em 1980, quando a poeta escrevia sua tese de mestrado, a segunda, sobre a tradução de um poema da escritora Sylvia Plath. Ana Cristina escrevia também ensaios sobre literatura, formou-se em teoria literária, sua tese sobre a filmagem de Joaquim Pero de Andrade do livro modernista de Mário de Andrade Macunaíma, intitulada Literatura Não é Documento, norte da sua pesquisa orientada por Heloísa Buarque de Holanda em 1978, foi lançada em livro. Em 1998, através do poeta eamigo pessoal de Ana Cristina, Armando Freitas Filho, o livro A teus pés, foi reeditado, e depois vieram Inéditos e Dispersos (poemas póstumos) Correspondência Incompleta (cartas). Existe também os livros de ensaio, Escritos no rio, de 1993, e escritos na Inglaterra, onde se vê uma poeta destacando-se também como ensaísta, clara e coerente. Ana Cristina suicidou-se em 29 de outubro de 1983, atirando-se do sétimo andar do seu prédio em copacabana, no Rio de Janeiro. Era linda, e escrevia poesia como poucos, e imprimiu na literatura brasileira pós moderna uma marca, um estilo, que muitos percorrem. Ela que veio do seio da poesia marginal, superou essa moda e distanciou-se muito delas que, muitas vezes, pretendia apenas instantes diretos e espontanêos do cotidiano. A poesia de Ana C. foi além. Minha vida um dia irá além para encontrá-la.


é muito claro
amor
bateu
para ficar
nesta varanda descoberta
a anoitecer sobre a cidade
em construção
sobre a pequena constrição
no teu peito
angústia de felicidade
luzes de automóveis
riscando o tempo
canteiros de obras
em repouso recuo
súbito da trama