No dia 01 de outubro de 2009, Porto Alegre recebeu o show de lançamento do disco novo do poeta Arnaldo Antunes no bar Opinião. Marcado para as 23:00, o espetáculo só começou por volta da meianoite. Basicamente, o show apresentava as canções de Iê iê iê, lançado agora em setembro. Arnaldo estava de terno, assim como o resto da banda, e de óculos escuros, um figurino provocando aquilo que se chamaria convencionalmente de Iê iê iê. Ao fundo, inúmeras camisetas estampadas mostravam a variedade de slogans que a cultura pop oferece: de Che Guevara a PUCRS.
Dois momentos lindos do show: No primeiro bis, quando o poeta relembrou a canção Socorro, gravada antes por Cássia Eller e regravada por Arnaldo no disco UmSom, de 1998. Ao todo foram registrados 3 voltas ao palco, o que significa que a plateia estava empolgada e Arnaldo bem a fim de prosseguir. Outro momento foi a descida de Arnaldo junto a plateia, cantando e pulando junto com as pessoas. O show do Opinião em Porto Alegre foi um dos primeiros da turnê do disco novo, o suficiente para garantir o feeling da recepção público/novas canções. Talvez alguma música mais antiga, alguma dos Titãs feitas por Arnaldo, pudessem dar ainda mais uma vibração ao show. Mas estava tudo lindo e saltitante. A intenção de Arnaldo era resgatar a expressão Iê iê iê como marca de um início do que veio a se chamar Rock aqui no Brasil, um tipo de retorno a Jovem Guarda e também ao que os Titãs tentavam fazer no iníco de carreira: música para balançar ouvidos, letras espertas e sem sofisticação poética exagerada, apenas pequenos achados iluminados.
Antes do show, assisti a passagem de som e troquei um papo com Arnaldo sobre poesia e seus novos projetos na área, além de um registro inédito de um dos seus poemas do livro Nada de Dna, incluído na antologia Como é que chama o nome disso, de 2006. Arnaldo adiantou que em breve lançará um novo livro. Em sua performance no Santader Cultural aqui de Porto Alegre, já havia marcado esse papo com ele de antemão.
Abaixo uma das novas letras de Iê iê iê, depois um video registrado por Andréia Laimer, que estava comigo, da canção Socorro, no exato momento do show.
Não me falta cadeira
Não me falta sofá
Só falta você sentada na sala
Só falta você estar
Não me falta parede
E nela uma porta pra você entrar
Não me falta tapete
Só falta o seu pé descalço pra pisar
Não me falta cama
Só falta você deitar
Não me falta o sol da manhã
Só falta você acordar
Pras janelas se abrirem pra mim
E o vento brincar no quintal
Embalando as flores do jardim
Balançando as cores no varal
A casa é sua
Por que não chega logo?
Até o teto tá de ponta-cabeça
Porque você demora
A casa é sua
Por que não chega logo?
Nem o prego aguenta mais
O peso desse relógio
Não me falta banheiro, quarto
Abajur, sala de jantar
Não me falta cozinha
Só falta a campainha tocar
Não me falta cachorro
Uivando só porque você não está
Parece até que está pedindo socorro
Como tudo aqui nesse lugar
Não me falta casa
Só falta ela ser um lar
Não me falta o tempo que passa
Só não dá mais para tanto esperar
Para os pássaros voltarem a cantar
E a nuvem desenhar um coração flechado
Para o chão voltar a se deitar
E a chuva batucar no telhado
A casa é sua
Por que não chega logo?
Até o teto tá de ponta-cabeça
Porque você demora
A casa é sua
Por que não chega logo?
Nem o prego aguenta mais
O peso desse relógio