O livro-poema em prosa de Ferreira Gullar, Crime na Flora (Ou Ordem em Progresso), conforme algumas edições, celebra este ano de 2011 seu aniversário de 25 anos de publicação. E seus 57 anos de escrita. Sim, porque este livro só foi publicado 32 anos depois de sua criação.
No ano de 1954, quando foi escrito, o poeta Ferreira Gullar estava no seu impasse criativo que levaria o autor a romper com a sintaxe tradicional e apresentação visual do poema, resultando em seu livro A Luta Corporal, que inaugura a produção poética de Gullar, embora antes ele tivesse escrito o renegado Um Pouco Acima do Chão.
Talvez por Gullar não acreditar nas pretensões estéticas dessa obra, ou por considerá-la insuficiente em sua trajetória experimental, deixando que A Luta Corporal reunisse sua força criativa e deixasse concentrar a ruptura pretendida. No entanto, Crime na Flora explora os mesmos recursos e certamente amplia e aprofunda as questões desenvolvidas em A Luta Corporal. Escrito em prosa, soa do início ao fim como um poema, usando procedimentos comuns os gênero. Não há uma linearidade narrativa, embora haja narração, descrição, alguma menção a tempo/espaço, mas tudo isso para reforçar a expressão que se afirma poética desde o início.
Talvez Crime na Flora possa ser nomeado a prosa do poema de Ferreira Gullar. E se fosse publicado naquele ano, seria outro exemplo completo das propostas poéticas do autor. O livro está algum tempo fora de catálogo, mas é fundamental para o entendimento da poética de Gullar. A obra não consta na Poesia Completa do autor, está nesse hiato entre a prosa e a poesia, não optando por desenvolver nenhum desses gêneros mas alimentando e enriquecendo ambos. Abaixo o trecho do livro-poema, que grita uma reedição:
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