Eucanaã Ferraz é autor de "Martelo" (1997), "Desassombro" (2002), "Rua do Mundo" (2004), entre outros livros de poesia. Organizou "Letra Só", livro de letras de Caetano Veloso (2002), e "Poesia Completa e Prosa", de Vinicius de Moraes (2003).
Tem poemas publicados em revistas especializadas (Brasil, França e Portugal). Participou da antologia Esses poetas - uma antologia dos anos 90, organizada por Heloísa Buarque de Hollanda (Rio de Janeiro: Aeroplano, 1998).
Participou de várias encontros de poetas, entre eles a I Bienal Internacional de Poesia de Faro, Portugal, 2001; e o II Encontro Internacional de Poetas na Ilha de Porto Santo, 2002 (Região Autônoma da Madeira, Portugal).
Professor de Literatura Brasileira na Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde obteve título de mestre com a dissertação Drummond: um poeta na cidade, em 1994, e se doutorou com a tese Máquina de comover: a poesia de João Cabral de Melo Neto e suas relações com a arquitetura, em 2000.
ACONTECIDOComo quem se banhasse
no mesmo rio
de águas repetidas,
outra vez era setembro
e o amor tão novo.
Iguais, teu hálito mascavo
e minha mão inquieta.Novamente o quarto,
a praça vista da janela,
teu peito.
Depois eu era só - vê -
sob a chuva miúda daquele dia.
FURTO
Imagina que
um rapaz,
rapace, te roubasse o nome.
Tua carne, então, era só melodia.
Ainda que os espelhos
contassem teus olhos e cabelos,
seguiria teu segredo,
intacto,
nas mãos do ladrão.Serias não mais que
uma coisa bruta: a felicidade.
E, sobre ela,
um pássaro pousar
pudesse.
PARA MANUEL BANDEIRA
Também é o becoo
que vejo.
Mas adivinho a Glória,a baía, o chão do horizonte.
E sei que,
no escuro,
o bico de um barco me olha.
FIGURA
A sorte
precária de uma luz
em meio à sombra
que tudo amesquinha.
Cada coisa sabe disso - o livro,
o prato, a fruta - e diz.
DESEJO
Que venham as flores, o doce,
a blandícia e o azul
mais que azul
das calmarias.
Ainda assim, sonharemos - secretos - com
beijar a boca das espadas.