quinta-feira, novembro 16, 2006

CAIO F. & RENATO R. E 1996



















O ano de 2006 completa dez anos da morte de dois ícones de nossas letras, um da área literária e outro da área musical, mas ambos da arte poética.

Caio Fernando Abreu faleceu em fevereiro de 1996 e Renato Russo em outubro do mesmo ano. Para mim foi estranho perder assim, no mesmo ano, dois ídolos recém acolhidos para a minha árvore de referências e influências nos idos dos meus 16 anos. E pela mesma causa: ambos HIV. Naquele ano, estava lendo intensamente a obra de Caio Fernando Abreu (contos, romances, teatro). Entre 1995 e 1997, simplesmente li toda a obra desse escritor que mudou minha forma de interpretar as coisas e, sobretudo, determinou um jeito de escrever que ainda estava - ainda estou - fortalecendo. Me lembro bem, em 1995, quando minha irmã e minha vó chegaram juntas e me entregaram o livro Ovelhas Negras, que reunia os contos que Caio havia condenado à gaveta durante 30 anos de sua obra. A partir daí foi um atrás do outro: Limite Branco, Pequenas Epifanias (lançado em 1996), Dulce Veiga, Pedras de Calcutá, Invetário do Irremediável, Os Dragões não conhecem o Paraíso, O ovo apunhalado, Morangos Mofados. E Triângulo das Águas, que me arrebatou, pela estrutura (3 novelas sobre cada signo de água) me deixou satisfeito com o fato da novela que abre o livro, Dodecaedro, ser referente ao signo de peixes, que é o meu, e ser dedicado a Ana Cristina César, outra autora que celebro. Em 1997 li todo o teatro de Caio (lançado naquele ano) em poucas semanas. Caio sabia dominar as técnicas: conto, romance, teatro. Cada texto, cada frase, eu lia como prazer, e descobria a poesia de cada sentença. Tudo o que Caio representa pra mim pôde ser lido num texto-crônica que escrevi no ano de sua morte e publicado no jornal Zero Hora, com o título: a Canção de Caio Fernado Abreu, no ano da sua morte, esse texto sintetizava tudo o que na hora eu sentia e o que provocou sua partida, assim como uma referência poética que me acompanha até hoje.

Caio permanece, aceso. E me vigia de perto, presente.

Renato Russo, eu ouvi o número de vezes equivalente a leitura de Caio. E sua obra interfere no que tento fazer em literatura tanto quanto Caio F. interfere. Variações do Mesmo Tema. As letras de Renato Russo são poemas que se ouvem e que ficam dentro aqui, como mantras existencias. Tanto quanto são as letras, a voz de Renato sabe expressar e chega longe. O canto dele nos mantém vivo. Os discos lançados pela Legião Urbana eu convivi como quem se relaciona com livros. A presença e o lirismo de Renato Russo ensinam, e sinceramente fortalecem, causam um impacto típico daquilo que a canção causa, porém consegue ser mais que isso: são também leitura de textos, poesia que se faz presente pelo canto, pelo som. Dessa forma, Renato Russo está pra mim no time das referências literárias.

No ano de 1996, eu estava em formação - sempre estamos - e ainda estou, porém agora mais determinado, mais seguro mesmo, capaz de determinar o que me influencia. Naquele ano eu estava me aprofundando nesses nomes, descobrindo, convivendo, me alimentando. E eles se foram durante esse trajeto, na verdade isso aumentou o caráter de mito que eles me ficaram, distantes, intocáveis, impossíveis de estabelecer um diálogo, de me mostrar pra eles. Reconhecer isso como algo impossível me foi drástico. Naquele ano de 1996. Hoje estou resignado, certo de que, lendo, ouvindo, lembrando deles, é certamente uma forma de me relacionar.

quarta-feira, novembro 01, 2006

TRINTA EM TRANSE




Trinta em Transe é acontecimento disco-livro do ano. Um disco para ser lido. 33 poetas de Porto Alegre reunidos num uníssono poético. Cada poema um novo tom, uma nova dicção, uma nova marca. Trinta em Transe é a pluralidade poética presente em nossos tempos. A tradição oral da poesia impressa em disco ainda é modesta no mercado brasileiro. Mas é por pouco tempo. Ideal seria se a cada novo livro de poemas viesse encartado um cd com o autor recitando as palavras da página. Trinta em Transe vem afirmar, dimensionar isso. Outra genialidade da coletânea é unir poetas laureados da cena literária portoalegrense com as novas promessas que prometem e cumprem seu talento, alguns inéditos, outros nem tanto, mas potências poéticas declaradas. No dia 30 de outubro de 2006, ao cair da tarde, na iluminada e tradicional Feira do Livro da nossa cidade amada, Trinta em Transe foi lançado, entre leituras e performances da fala e do som, Trinta em Transe aconteceu e perdurará nos ouvidos de quem ouvir. Eu sou a faixa 06 do disco. Fabio Godoh e Marcelo Noah organizaram o movimento, orientaram o carnaval e inauguraram Trinta em Transe para a história. As gravações se deram em julho deste ano de 2006, doces e ricas manhãs. Minha voz e meu poema nunca estiveram tão comprometidos em soar profissional, mas a arte sabe o que faz quando quem a faz executa com paixão. Paixão e esforço, tudo para a realização de um poema. Trinta em Transe. Aí está.

Aí estamos.

sexta-feira, outubro 06, 2006

DOIS DISCOS NOVOS: CÊ QUALQUER - CAETANO E ARNALDO







Dois lançamentos justificam o ano de 2006.
Um deles é o mais recente disco de Caetano Veloso, o mais novo dos novos discos de Caetano porque vem seguido da apresentação de uma nova fase. Existe no disco, que leva o nome Cê, palavra sintética, condensando o você, a postura de rock na formação da banda: guitarra, baixo e bateria. O jeito de usar a voz também está diferenciado em algumas faixas. Após 6 anos sem lançar um disco de inéditas, a não ser discos em parceria, trilhas de filme e como intérprete, Caetano apresenta um trabalho esperado. E nunca na história de sua discografia o poeta lançou um disco inteiro de autor. São 12 faixas novíssimas, só dele. Como todo artista de qualidade, Caetano está sempre renovando sua performance. Cê confirma isso. Lirismo, rock e letras afiadas dão o tom. A faixa Wally Salomão presta a justa homenagem ao poeta e amigo, abaixo transcrita. Ouça e leia o Cê, razão pra estar feliz no ano de 2006.

meu grande amigo
desconfiado e estridente
eu sempre tive comigo
que eras na verdade
delicado e inocente

findaste o teu desenho
e a tua marca sobre a terra resplandece
resplandece nítida e real
entre livros e os tambores do vigário geral
e o brilho não é pequeno

eu sigo aqui e sempre em frente
deixando minha errática marca de serpente
sem asas e sem veneno
sem plumas e sem raiva
suficiente










O outro é o mais novo de Arnaldo Antunes, lançado na mesma semana, traz a afirmação que sempre Arnaldo insinuou desde que firmou sua carreira solo, em 1992: a MPB. Se antes ele estava consagrada nesse gênero, o disco Qualquer reafirma essa identidade. Tanto os arranjos como o timbre do cantor dão a cara de um estilo particular de conceber a MPB. Gravado em 2 dias, Qualquer traz as parcerias de Arnaldo antes cantadas por outros, a escolha dessas parcerias trazidas agora no disco são as mais MPBS possíveis, destaque para As Coisas (com Gilberto Gil), Lua Vermelha (antes cantada por Bethânia), Eu não sou da sua rua (por Marisa Monte). A impressão é que o poeta elegeu do seu repertório de parceriaso que mais soava como MPB clássica e deu seu tom interpretativo nesse disco. As canções inéditas são também em parceria, mas a grande novidade do disco são essas reinterpretações que Arnaldo grava a partir de canções feitas para outros cantores.

Cê, de Caetano, Qualquer, de Arnaldo. E antes disso, os 2 novos de Marisa mais o Carioca de Chico Buarque, justificam a felicidade musical da canção brasileira. Os medalhões da MPB mostrando trabalhos novíssimos e belíssimos.
Para lá
Arnaldo Antunes / Adriana Calcanhotto



se toda escada esconde
uma rampa
ampara o horizonte
uma ponte
para o oriente
um olhar
distante

em volta de um assunto
uma lente
depois de cada luz
um poente
para cada ponto
um olhar
rente

e a montanha insiste em ficar lá
parada
a montanha insiste em ficar lá
para lá
parada
parada

diante do infinito
um mosquito
em torno de um contorno
gigante
cada eco leva
uma voz
adiante

decanta em cada canto
um instante
de dentro do segundo
seguinte
que só por um momento
será
antes

e a montanha insiste em ficar lá
parada
a montanha insiste em ficar lá
para lá
parada
parada

terça-feira, setembro 12, 2006

NOVA ANTOLOGIA




Este livro reúne 205 poemas, de 70 poetas, todos os gêneros, selecionadas e comentada por Manuel da Costa Pinto, colunista da Folha de São Paulo. O livro traz poetas como Arnaldo Antunes, João Bandeira, Augusto e Haroldo de Campos, Chacal, Eucanaã Ferraz, Heitor Ferraz Mello, Ferreira Gullar, Augusto Massi, entre outros. Um conjunto representativo da produção brasileira de poesia de agora, pulsante. Todas as conquistas do modernismo distribuída em diferentes tons, estilos, dicções.

sábado, agosto 19, 2006

PODCAST RÁDIO IPANEMA




O podcast literário da rádio Ipanema FM, traz nessa edição um especial sobre o poeta Diego Petrarca concebido por ninguém menos que Fabio Godoh e Marcelo Noah. Talvez uma das maiores definições sobre a atividade poética deste autor. Além disso, como é habitual de todo podcast, haverá um sorteio no site da rádio ipanema FM, nesse caso, o último livro de Diego: Via Cinemascope, lançado no início de 2005. Vá até o site, e se delicie com a beleza proferida das gargantas carinhosas de Fabio & Marcelo sobre seu comparsa Petrarca.

http://www2.uol.com.br/ipanema/podcast.shtml

quarta-feira, agosto 02, 2006

PALAVRAUMA - JULHO DE 2006




O poeta Diego Petrarca está num dos sites mais especializados em literatura, o Germina. Lá estão nomes e renomes e promessas da nova poesia brasileira. A edição do site traz 12 poemas novíssimos, que compõe o livro Palavaruma.


quarta-feira, junho 21, 2006

NOME




O poeta multimídia Arnaldo Antunes está relançando seu trabalho concebido e lançado em 1993. O video Nome, inicialmente lançado em vhs, reúne 30 poemas visuias de Arnaldo em animações na tela. O projeto era ousado: livro/video/disco, tudo num único trabalho. Os poemas impressos ganham plasticidade no video e melodia nas canções. Um belo trabalho do poeta que sintetiza as três atividades em torno da sempre poesia no ofício de Arnaldo: imagem/canção/letra, no eixo principal desse artista, a palavra.

Kit composto por CD + DVD, com o som remixado e remasterizado e as imagens restauradas. O DVD disponibiliza as letras dos 30 poemas em português, inglês e espanhol. NOME é composto de 30 clipes elaborados a partir de poemas e canções de Arnaldo Antunes. Realizados por Arnaldo Antunes, Celia Catunda, Kiko Mistrorigo e Zaba Moreau.


algo é o nome do homem
coisa é o nome do homem
homem é o nome do cara
isso é o nome da coisa
cara é o nome do rosto
fome é o nome do moço
homem é o nome do troço
osso é o nome do fóssil
corpo é o nome do morto
homem é o nome do outro

segunda-feira, junho 05, 2006

ENSAIO SOBRE LEMINSKI



O site mais especializado na obra e vida de Paulo Leminski, traz o ensaio que o poeta Diego Petrarca escreveu sobre uma de suas maiores referências/interferências literárias. Confira, tudo o que respira, conspira.

http://paginas.terra.com.br/arte/PopBox/kamiquase/home.htm

terça-feira, maio 09, 2006

MIRALUME




Os poetas Carlos Besen, Diego Petrarca, Carla Laidens, Lorenzo Ribas e Telma Scherer estão reunidos nesse blog. Miralume, inéditos e dispersos desse grupo, dessa tribo, dessa gente, dessa luz mirada na poesia.


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Somos apenas vozes, por exemplo. Não só vozes: dicções. Cinco nomes num Miralume. Mais que a apresentação de um grupo é o resultado de uma afinidade criativa que se reúne em diferentes tons, ecos e ruídos. Diferença que gera sentido, mais que a intenção de algum objetivo. E sobre cada qual a consciência de ser vários em cada um. Apenas vozes.

Não só vozes: reverberações

quarta-feira, abril 12, 2006

SEPTOPLASTIA

Ar

que a

narina não

inspira

e quando inspira

não respira:

se esvai pela curvatura

do septo - oxigênio obstruído pelo osso

num corte esquemático

o espéculo

reinaugura o nariz por dentro

em duas metades

simétricas e as narinas

agora inspiradas

respiram

a mesma ventania


Em 2005 o poema Septoplastia foi anteriormente publicado no site www.projetoidentidade.org/site/ onde o autor colabora.

terça-feira, março 14, 2006

MARISA EM DOIS



Marisa Monte está de volta. Desde de 2000 que a cantora mais cult/cultuada da moderna MPB não lançava um disco solo. Em 2002 lançou com os parceiros Arnaldo e Brown o estouro Tribalistas, espécie de neo-doces bárbaros. Tão diferente daqueles. O fato é que Marisa Monte deixa sempre um espaço entre um disco e outro: em 1989, em 1991, 1994, 1996, 2000 (em 1999 ela ajudou a montar o repertório de sambas, e cantou todos eles com a velha guarda). Este espaço estratégico existe por um motivo: os discos de Marisa perduram, é necessário ouvir, reouvir, re-reouvir. E para tanto é necessário um tempo de dois três anos. Ela decide lançar um disco é quando as pessoas estão de fato sedentas de ver e escutar suas novas canções. E agora ela está de volta em dupla dose: de um lado canções românticas na voz perfeita para soar o verbo lírico: Infinito Particular. De outro o samba, letras doces e batucada. Samba real, umas das referências de Marisa sempre insinuada em seu repertório. Agora ela faz um disco de samba, um disco inteiro de samba. Sambas clássicos do repertório brasileiro: Ivone Lara. Sambas novos dela e de seus parceiros Antunes e Brown: Universo ao meu redor. Marisa reinventa-se cada vez mais fiel ao seu foco particular de formação musical que resulta um Infinito Particular num Universo ao seu Redor. Desde MM, passando por Mais, Cor de Rosa e Carvão, Barulinho Bom, Memórias Crônicas, e Tribalistas, está tudo aí nesses discos novos, todo o seu passado musical contido em dois grandes trabalhos. Arnaldo e Brown sempre ali, letras fresquinhas de Antunes na musicalidade fértil de Brown e a voz de Marisa, valerá por anos mais, em mim, em nós, a trilha sonora do nosso universo ao redor de um infinito particular.


Eis o melhor
e o pior de mim
o meu termômetro
o meu quilate
vem, cara, me retrate
não é impossível
eu não sou difícil de ler
vem, faça sua parte
eu sou daqui
eu não sou de marte
vem, cara, me repara
não vê, tá na cara
sou porta-bandeira de mim
só não se perca ao entrar
no meu infinito particular
em alguns instantes
sou pequenina e também gigante
vem, cara, se declara
o mundo é portátil pra quem não tem nada a esconder
olha minha cara
é só mistério
não tem segredo
vem cá , não tenha medo
a água é potável
daqui você pode beber
só não se perca ao entrar
no meu infinito particular

quarta-feira, janeiro 18, 2006

SITE DA IPANEMA

Abaixo, o texto da coluna que os poetas totais Godoh e Noah alimentam no site da rádio ipanema, desde que cobriram a Feira do Livro de 2005, de uma forma nunca dante vista nas ondas radiofônicas de qualquer esfera.

Diego Petrarca, o poeta laureado
Fabio Godoh e Marcelo Noah

Eu diria que os versos de Diego Petrarca sintetizam a vida, mas a frase não é minha. Na verdade, o que sempre me surpreendeu em seus poemas foi o rotundo e obstinado empenho em não revelar suas emoções mais íntimas, em não apresentar sequer uma pista de seu universo sentimental mais egoísta: síntese da alma humana “porca como um cu”, como disse meu analista. Em seus poemas, Diego mente, e exercita, mentindo, um mentiroso compromisso com a objetividade, postura expressiva imprescindível a um poeta voado o mais distante possível das mulheres de primeira pessoa e dos psiquiatras de terceira persona. Algumas vezes, tenho conversado com Diego sobre esse indomável temor de sentir-se desnudo e descoberto frente a estes tubarões de aquário, que não merecem nadar, e que imundam nossas lidas com pastilhas coloridas. Com efeito, Diego é peixe dentro d’água, feto apodrecendo por dentro, poeta-privada, alquimista de emoções que narra histórias e feridas para as quais transplanta suas vergonhas menos alheias, tomando, igual em desgraça, partido sentimental dos personagens que dão vida aos seus poemas. Vem daí, provavelmente, estas baforadas de cigarro na cara do leitor, estas cenografias habitadas por desabitadas sombras à deriva e em perpétua fuga de si mesmas, que embarcam em copos e corpos com os quais impudicamente se identificam, carregando maletas abarrotadas de areia movediça.A figura do poeta Diego é céu estrelado sob a pele, e seus olhos são homens indolentes e solitários à procura de mais e mais solidão, vômito de restos puídos de biografias apaixonadas pelo desamor. Enfim, Diego é vampiro urbano temeroso da luz do dia, que vai buscando a cobertura infiel da escuridão para saciar sua sede de par, perdido por ruas que nascem de bar em bar, lá pelos lados selvagens do naufrágio. Eis a estalagem onde o poeta empenha a sangue a sua poesia, onde se encontram os mais descarnados acordes do poema, nunca isento de amargas ternuras, ainda que em doses recatadas, e de distanciamentos que seu peculiar sentido exige. Diego Petrarca, doce demônio barbaramente humano, poeta que alimenta nossas paisagens com os latidos de um coração que está por anoitecer, fruta de sangue amanhecida sobre o asfalto. De todos os Diegos que existem em Petrarca, há apenas um que é sempre leal à única razão de ser da poesia: aquele apaixonado pelos seres humanos que, mesmo tendo perdido a fé em seus congêneres, ainda acreditam que a vida sempre pode nos surpreender.

(No dia 15 de dezembro de 2005, o poeta Diego Petrarca subiu ao palco do teatro São Pedro para receber o prêmio de destaque na categoria In-Versus, do Habitasul Revelção Literária na Feira do Livro, com a obra Viacinemascope).

segunda-feira, dezembro 26, 2005

AGUILAR E A BANDA PERFORMÁTICA


O paulista e artista plástico Aguilar, devoto de Hélio Oiticcica, montou em 1982 uma turma que movimentou a cena cultural de sampa, reunindo artes plásticas, poesia, canção e psicodelia, Aguilar e sua Banda Performática foi um fantástico projeto artístico. Nomes conhecidos fizeram parte da equipe: Paulo Miklos, Arnaldo Antunes, poucos anos antes de estourarem com os Titãs. Lanny Gordin, baterista dos anos setenta que tocou no disco Araçá Azul, de Caetano. As apresentações aconteciam em lugares públicos de Sampa: SESC pompéia, no MASP, em espaços de uiversidades. E tudo era permitido, a consagração de todos os gêneros de arte num só espetáculo: Aguilar gritava coisas surreais ao microfone, Arnaldo penteava discos de vinis, carregava pilhas de livros, e uma enorme tela era pintava ao vivo, concebendo na hora exata da apresentação uma figura nonsense. E era mais que isso. Não vi apresentção alguma, escrevo aqui sobre o que li a respeito desse grupo, a única coisa que escutei foi o disco, o único com a formação original lançado em 1982 que consegui este ano ligando pra Aguilar e pedindo. Em 2001 houve uma nova formação de grupo, mas o cd saiu com poucas músicas e nenhum integrante da de 1982, a não ser o próprio mestre Aguilar, que agitou tudo isso. O disco de 1982, chamado Aguilar e a Banda Performática traz 9 canções feitas coletivamente, abaixo a letra de Estranheleza, de Arnaldo, cantada no cd por ele e Go, sua namorada na época. Além disso, o material abre com a faixa Você escolheu errado seu super-herói e fecha com a homenagem ao muso Oiticcica: Parangolé. As faixas são manuscritas no encarte do disco, tudo é artesanal, independente, criativo e singular na sua proposta de unir canção poema declamação e pintura. A Banda Performática de Aguilar é uma re-visitação as intenções tropicalistas. E é genial!

Pétala de flor na bochecha,
Se enfeita, na mata, a menina preta.
Fanta-uva, doce corante,
Sou feliz, no pé verniz diamante.
Eê, êe,Eieiei iê,Eieiei iê eê,Eê eê!
Em Saturno há tempestades douradas;
No céu (no CÉU) eu tenho dez namoradas.
Tanta estranheleza me encanta,
Santa mulher com pele de planta.
Eê, língua de macaco ê,Eê, perna de serpente ê.
Miss mistério no stereo do som
Pérola, tudo tambor tão bom

quinta-feira, dezembro 22, 2005

TIME CAMPEÃO


Essa foto é um encontro da finaflor do lácio da poesia brasileira. Basta contemplá-la, ela já se escreve sozinha. Eu quero vestir uma camiseta com essa foto.

domingo, dezembro 18, 2005

PALCO E POETA


No dia 15 de dezembro de 2005, o poeta Diego Petrarca sobe ao palco do teatro São Pedro, para receber o prêmio de destaque na categoria In-Versus do Habitasul Revelção Literária na Feira do Livro, junto com outros vencedores. O livro com os textos premiados foi lançado nesse mesmo dia. O poeta Diego foi destaque com o poema Verbena, além de embolsar um dinheiro.

segunda-feira, dezembro 12, 2005

IN-VERSUS



O poeta Diego C. Petrarca foi um dos vencedores do Revelação Literária Palco Habitasul de 2005, pelo destaque no gênero In-Vresus (poesia). Este ano o concurso foi muito disputado, com inúmeros trabalhos em todas as categorias. Dia 15 de dezembro terá a premiação, no Teatro São Pedro, onde será lançada a antologia dos autores vencedores pela Artes & Ofícios. Confira.

http://www.cpovo.net/jornal/A111/N72/HTML/16NOITE9.htm

sexta-feira, dezembro 09, 2005

LUVAS DE PELICA



Ainda da série primeiras edições: esse é o original de Luvas de Pelica, livro independente que Ana Cristina Cesar lançou na Inglaterra, em 1980, quando cursava sua pós em tradução trabalhando num poema de Silvia Plath. Luvas de Pelica foi reeditado juntos com os 2 livros anteriores, em 1998, quando foi reeditado também seu primeiro livro: A teus pés.

quarta-feira, dezembro 07, 2005

ANSEIOS CRÍTICOS


Ensaios Críticos, Anseios Crípticos




O paranaense Paulo Leminski saiu da cena da literatura brasileira há quase quinze anos, mas ainda podemos perceber sua contribuição não apenas para a poesia pós-moderna como também para a teoria literária. Sabe-se muito do poeta Leminski, que começou publicando em 1975 um antiromance escrito em prosa poética ou, como ele mesmo dizia, em proesia, influenciado pela inovação de linguagem através da palavra montagem lançada por Joyce em Finnegans Wake. Depois Leminski publicou poesia, livros como Não fosse isso, Caprichos e Relaxos, Distraídos Venceremos, os póstumos La Via em Close, O Ex-Estranho. Escreveu também biografias como as de Cruz e Souza e Bashô, traduziu autores como Mishima e Jonh Lennon, esboçou novelas como Agora é que são elas, Guerra Dentro da Gente (infanto-juvenil), Gozo Fabuloso (inédita), fez inúmeras letras de música, introduziu a forma construtivista japonesa do haicai, assumiu a poesia visual fazendo verso na tela, no grafitti, no autdoor, na televisão, poesia sobre fotos e pinturas. Em sua produção poética foi modernista até o fim, incorporando como ninguém desde a grande ruptura de 22 até a poesia marginal dos anos 70. Paulo Leminski captou as mensagens mais básicas e vitais do modernismo brasileiro, que resultou uma poética afiada com a linguagem do seu tempo, através da síntese, da ironia, adicionadas a uma inclinação de poesia concreta à geléia geral do tropicalismo.
Além de tudo isso, Leminski fez também teoria literária. O livro Ensaios Crípticos, lançado em 1986, reúne uma compilação de textos teóricos sobre poesia, arte e literatura organizados pelo poeta e sua ex-mulher, também poeta, Alice Ruiz. Nesse livro Leminski apresenta-se como grande conhecedor da nossa história literária através de um texto leve e didático, informativo, diferente do que se costuma ler em teoria literária, quando a linguagem se faz acadêmica e dificultosa. O fato de esses textos estarem longe de um academicismo, não compromete a contribuição de Leminski para crítica literária. Em tom de crônica, de ensaio, de texto para sala de aula, Ensaios Crípticos revela um autor que, além de poeta inventor, foi também informado refletindo sobre o andamento da literatura brasileira e das artes que a ela estão relacionadas.
Um dos textos desse compilado teórico de Leminski é Teses, Tesões. Nesse texto, o autor de Catatau expõe uma comparação entre as práticas poéticas anteriores e posteriores ao ano de 1922, explosão e surgimento da poesia moderna liderada por Oswald e Mário de Andrade. Escreve Leminski na abertura do texto: "Com o modernismo de 22, o poeta brasileiro largou de ser aquele bom selvagem, doce bárbaro, indígena silvícola, nativo do país da linguagem, a ser estudado, pensado e falado por esses etnólogos vindos das poderosas regiões da Teoria, caras pálidas, que hoje chamamos críticos". Na abertura do texto, o poeta atenta ao fato de que, antes da ruptura antropófaga, o poeta poetava e o crítico criticava, teorizava a respeito do poema. A verdade é que Paulo Leminski estava certo, nenhum poeta brasileiro significativo do século XIX pensava o exercício da reflexão sobre o fazer poético. No modernismo de 22, a poesia veio calcada de teoria, e só passou a existir devido ao esforço teórico de seus autores para consolidar suas propostas de vanguarda importada do modelo europeu via Oswald de Andrade. Toda proposta desse autor nasceu colada em teoria, quase complemento do que fazia em literatura: Manifesto Antropófago, Poesia Pau-Brasil, todas suas revoluções de forma e conteúdo trouxeram junto a necessidade da teorização, da explicação das propostas. Leminski ainda aponta que Mário de Andrade, outro líder modernista, chegava a ter a contribuição da sua poesia quase esmagada pela teorização, sobre escrever sobre a ação poética, havia força e novidade tanto em sua literatura desvairada quanto na sua crítica bem aplicada: "toda tentativa de mudança exige reflexão, é preciso repensar a rota" afirma o teórico Leminski, que compara os poetas anteriores ao ano de 22 como sonâmbulos que seguiam os automatismos da tradição herdada dos modismos: "A poesia era uma resposta, 22 a devolveu a sua condição de pergunta". No mesmo artigo Leminski ainda fala em Drummond, quando o poeta mineiro lançou em 1930 seu primeiro livro Alguma Poesia, o grande herdeiro das riquezas do modernismo brasileiro incorporou a reflexão ao fazer poético, de forma explícita, e boa parte da produção do Itabirano consiste nessa reflexão: "lutar com palavras / é uma luta vã...".
A grande questão que Paulo Leminski aborda em seu texto é que o grande desafio está em definir a poesia depois das conquistas modernistas, considerando o fato de que não se sabe mais onde está a poesia ou para onde ela vai. Em que consiste afinal esse ato discursivo lógico/não-lógico em que toda liberdade é cabível? Onde está, afinal, o sentido? Para tanto, Leminski se apropria das definições de alguns poetas consideráveis da nossa literatura que atuaram justamente nessa época em que o dilema poesia se estabeleceu após o modernismo. Quem não reflete, repete. Para Vinícius de Moraes a poesia tem sentido na audição: música popular; para João Cabral de Mello Neto: na visão, arquitetura, arte plástica. A poesia concreta recupera Cabral e gera um campo mais amplo, rigoroso e radical do que o Modernismo, a teoria é valorizada e até mesmo não faltou quem dissesse que, na poesia concretista, faltou poesia e sobrou teoria. Leminski, ao falar da sua produção, afirma ter sentido a necessidade de reflexão, pois atrás dele estava todo um exemplo de modernidade, de Oswald até o Concretismo, em meados dos anos 60 e 70 não havia mais espaço ao "bardo ingênuo e puro" e inovação e comunicação (duas tendências irreconciliáveis) eram essenciais a uma prática poética agora pós-moderna. Não está errada a idéia de que tudo o que veio depois do modernismo Oswald/Concretismo em poesia brasileira parece dialogar e exercitar todas as aberturas permitidas pelas poéticas anteriores. A possível contribuição da poesia pós-moderna talvez tenha sido assumir e consolidar a confluência das práticas modernas, assumidamente heterogênea e libertária. O exemplo disso é a própria poesia de Leminski, ao mesmo tempo Oswaldiana e concreta, filtrada pela síntese do haicai. Como disse ele: "Preferi apresentar no espaço-tempo de um só livro, o panorama de um pensamento mundano". Muitos poetas, por estarem cientes da necessidade de reflexão para a busca de inovação ou mesmo para a compreensão despretensiosa de uma poética, tornam-se não mais poetas, mas teóricos, professores de literatura, críticos.
Paulo Leminski foi de fato um poeta notável, por vislumbrar a necessidade de uma reflexão e conseguir fazê-la no livro Ensaios Críticos, paralelamente a sua produção poética.



Texto publicado no site da revista virtual Pálavora, da Uniritter, em junho de 2004.