terça-feira, setembro 12, 2006

NOVA ANTOLOGIA




Este livro reúne 205 poemas, de 70 poetas, todos os gêneros, selecionadas e comentada por Manuel da Costa Pinto, colunista da Folha de São Paulo. O livro traz poetas como Arnaldo Antunes, João Bandeira, Augusto e Haroldo de Campos, Chacal, Eucanaã Ferraz, Heitor Ferraz Mello, Ferreira Gullar, Augusto Massi, entre outros. Um conjunto representativo da produção brasileira de poesia de agora, pulsante. Todas as conquistas do modernismo distribuída em diferentes tons, estilos, dicções.

sábado, agosto 19, 2006

PODCAST RÁDIO IPANEMA




O podcast literário da rádio Ipanema FM, traz nessa edição um especial sobre o poeta Diego Petrarca concebido por ninguém menos que Fabio Godoh e Marcelo Noah. Talvez uma das maiores definições sobre a atividade poética deste autor. Além disso, como é habitual de todo podcast, haverá um sorteio no site da rádio ipanema FM, nesse caso, o último livro de Diego: Via Cinemascope, lançado no início de 2005. Vá até o site, e se delicie com a beleza proferida das gargantas carinhosas de Fabio & Marcelo sobre seu comparsa Petrarca.

http://www2.uol.com.br/ipanema/podcast.shtml

quarta-feira, agosto 02, 2006

PALAVRAUMA - JULHO DE 2006




O poeta Diego Petrarca está num dos sites mais especializados em literatura, o Germina. Lá estão nomes e renomes e promessas da nova poesia brasileira. A edição do site traz 12 poemas novíssimos, que compõe o livro Palavaruma.


quarta-feira, junho 21, 2006

NOME




O poeta multimídia Arnaldo Antunes está relançando seu trabalho concebido e lançado em 1993. O video Nome, inicialmente lançado em vhs, reúne 30 poemas visuias de Arnaldo em animações na tela. O projeto era ousado: livro/video/disco, tudo num único trabalho. Os poemas impressos ganham plasticidade no video e melodia nas canções. Um belo trabalho do poeta que sintetiza as três atividades em torno da sempre poesia no ofício de Arnaldo: imagem/canção/letra, no eixo principal desse artista, a palavra.

Kit composto por CD + DVD, com o som remixado e remasterizado e as imagens restauradas. O DVD disponibiliza as letras dos 30 poemas em português, inglês e espanhol. NOME é composto de 30 clipes elaborados a partir de poemas e canções de Arnaldo Antunes. Realizados por Arnaldo Antunes, Celia Catunda, Kiko Mistrorigo e Zaba Moreau.


algo é o nome do homem
coisa é o nome do homem
homem é o nome do cara
isso é o nome da coisa
cara é o nome do rosto
fome é o nome do moço
homem é o nome do troço
osso é o nome do fóssil
corpo é o nome do morto
homem é o nome do outro

segunda-feira, junho 05, 2006

ENSAIO SOBRE LEMINSKI



O site mais especializado na obra e vida de Paulo Leminski, traz o ensaio que o poeta Diego Petrarca escreveu sobre uma de suas maiores referências/interferências literárias. Confira, tudo o que respira, conspira.

http://paginas.terra.com.br/arte/PopBox/kamiquase/home.htm

terça-feira, maio 09, 2006

MIRALUME




Os poetas Carlos Besen, Diego Petrarca, Carla Laidens, Lorenzo Ribas e Telma Scherer estão reunidos nesse blog. Miralume, inéditos e dispersos desse grupo, dessa tribo, dessa gente, dessa luz mirada na poesia.


*****************************************************


Somos apenas vozes, por exemplo. Não só vozes: dicções. Cinco nomes num Miralume. Mais que a apresentação de um grupo é o resultado de uma afinidade criativa que se reúne em diferentes tons, ecos e ruídos. Diferença que gera sentido, mais que a intenção de algum objetivo. E sobre cada qual a consciência de ser vários em cada um. Apenas vozes.

Não só vozes: reverberações

quarta-feira, abril 12, 2006

SEPTOPLASTIA

Ar

que a

narina não

inspira

e quando inspira

não respira:

se esvai pela curvatura

do septo - oxigênio obstruído pelo osso

num corte esquemático

o espéculo

reinaugura o nariz por dentro

em duas metades

simétricas e as narinas

agora inspiradas

respiram

a mesma ventania


Em 2005 o poema Septoplastia foi anteriormente publicado no site www.projetoidentidade.org/site/ onde o autor colabora.

terça-feira, março 14, 2006

MARISA EM DOIS



Marisa Monte está de volta. Desde de 2000 que a cantora mais cult/cultuada da moderna MPB não lançava um disco solo. Em 2002 lançou com os parceiros Arnaldo e Brown o estouro Tribalistas, espécie de neo-doces bárbaros. Tão diferente daqueles. O fato é que Marisa Monte deixa sempre um espaço entre um disco e outro: em 1989, em 1991, 1994, 1996, 2000 (em 1999 ela ajudou a montar o repertório de sambas, e cantou todos eles com a velha guarda). Este espaço estratégico existe por um motivo: os discos de Marisa perduram, é necessário ouvir, reouvir, re-reouvir. E para tanto é necessário um tempo de dois três anos. Ela decide lançar um disco é quando as pessoas estão de fato sedentas de ver e escutar suas novas canções. E agora ela está de volta em dupla dose: de um lado canções românticas na voz perfeita para soar o verbo lírico: Infinito Particular. De outro o samba, letras doces e batucada. Samba real, umas das referências de Marisa sempre insinuada em seu repertório. Agora ela faz um disco de samba, um disco inteiro de samba. Sambas clássicos do repertório brasileiro: Ivone Lara. Sambas novos dela e de seus parceiros Antunes e Brown: Universo ao meu redor. Marisa reinventa-se cada vez mais fiel ao seu foco particular de formação musical que resulta um Infinito Particular num Universo ao seu Redor. Desde MM, passando por Mais, Cor de Rosa e Carvão, Barulinho Bom, Memórias Crônicas, e Tribalistas, está tudo aí nesses discos novos, todo o seu passado musical contido em dois grandes trabalhos. Arnaldo e Brown sempre ali, letras fresquinhas de Antunes na musicalidade fértil de Brown e a voz de Marisa, valerá por anos mais, em mim, em nós, a trilha sonora do nosso universo ao redor de um infinito particular.


Eis o melhor
e o pior de mim
o meu termômetro
o meu quilate
vem, cara, me retrate
não é impossível
eu não sou difícil de ler
vem, faça sua parte
eu sou daqui
eu não sou de marte
vem, cara, me repara
não vê, tá na cara
sou porta-bandeira de mim
só não se perca ao entrar
no meu infinito particular
em alguns instantes
sou pequenina e também gigante
vem, cara, se declara
o mundo é portátil pra quem não tem nada a esconder
olha minha cara
é só mistério
não tem segredo
vem cá , não tenha medo
a água é potável
daqui você pode beber
só não se perca ao entrar
no meu infinito particular

quarta-feira, janeiro 18, 2006

SITE DA IPANEMA

Abaixo, o texto da coluna que os poetas totais Godoh e Noah alimentam no site da rádio ipanema, desde que cobriram a Feira do Livro de 2005, de uma forma nunca dante vista nas ondas radiofônicas de qualquer esfera.

Diego Petrarca, o poeta laureado
Fabio Godoh e Marcelo Noah

Eu diria que os versos de Diego Petrarca sintetizam a vida, mas a frase não é minha. Na verdade, o que sempre me surpreendeu em seus poemas foi o rotundo e obstinado empenho em não revelar suas emoções mais íntimas, em não apresentar sequer uma pista de seu universo sentimental mais egoísta: síntese da alma humana “porca como um cu”, como disse meu analista. Em seus poemas, Diego mente, e exercita, mentindo, um mentiroso compromisso com a objetividade, postura expressiva imprescindível a um poeta voado o mais distante possível das mulheres de primeira pessoa e dos psiquiatras de terceira persona. Algumas vezes, tenho conversado com Diego sobre esse indomável temor de sentir-se desnudo e descoberto frente a estes tubarões de aquário, que não merecem nadar, e que imundam nossas lidas com pastilhas coloridas. Com efeito, Diego é peixe dentro d’água, feto apodrecendo por dentro, poeta-privada, alquimista de emoções que narra histórias e feridas para as quais transplanta suas vergonhas menos alheias, tomando, igual em desgraça, partido sentimental dos personagens que dão vida aos seus poemas. Vem daí, provavelmente, estas baforadas de cigarro na cara do leitor, estas cenografias habitadas por desabitadas sombras à deriva e em perpétua fuga de si mesmas, que embarcam em copos e corpos com os quais impudicamente se identificam, carregando maletas abarrotadas de areia movediça.A figura do poeta Diego é céu estrelado sob a pele, e seus olhos são homens indolentes e solitários à procura de mais e mais solidão, vômito de restos puídos de biografias apaixonadas pelo desamor. Enfim, Diego é vampiro urbano temeroso da luz do dia, que vai buscando a cobertura infiel da escuridão para saciar sua sede de par, perdido por ruas que nascem de bar em bar, lá pelos lados selvagens do naufrágio. Eis a estalagem onde o poeta empenha a sangue a sua poesia, onde se encontram os mais descarnados acordes do poema, nunca isento de amargas ternuras, ainda que em doses recatadas, e de distanciamentos que seu peculiar sentido exige. Diego Petrarca, doce demônio barbaramente humano, poeta que alimenta nossas paisagens com os latidos de um coração que está por anoitecer, fruta de sangue amanhecida sobre o asfalto. De todos os Diegos que existem em Petrarca, há apenas um que é sempre leal à única razão de ser da poesia: aquele apaixonado pelos seres humanos que, mesmo tendo perdido a fé em seus congêneres, ainda acreditam que a vida sempre pode nos surpreender.

(No dia 15 de dezembro de 2005, o poeta Diego Petrarca subiu ao palco do teatro São Pedro para receber o prêmio de destaque na categoria In-Versus, do Habitasul Revelção Literária na Feira do Livro, com a obra Viacinemascope).

segunda-feira, dezembro 26, 2005

AGUILAR E A BANDA PERFORMÁTICA


O paulista e artista plástico Aguilar, devoto de Hélio Oiticcica, montou em 1982 uma turma que movimentou a cena cultural de sampa, reunindo artes plásticas, poesia, canção e psicodelia, Aguilar e sua Banda Performática foi um fantástico projeto artístico. Nomes conhecidos fizeram parte da equipe: Paulo Miklos, Arnaldo Antunes, poucos anos antes de estourarem com os Titãs. Lanny Gordin, baterista dos anos setenta que tocou no disco Araçá Azul, de Caetano. As apresentações aconteciam em lugares públicos de Sampa: SESC pompéia, no MASP, em espaços de uiversidades. E tudo era permitido, a consagração de todos os gêneros de arte num só espetáculo: Aguilar gritava coisas surreais ao microfone, Arnaldo penteava discos de vinis, carregava pilhas de livros, e uma enorme tela era pintava ao vivo, concebendo na hora exata da apresentação uma figura nonsense. E era mais que isso. Não vi apresentção alguma, escrevo aqui sobre o que li a respeito desse grupo, a única coisa que escutei foi o disco, o único com a formação original lançado em 1982 que consegui este ano ligando pra Aguilar e pedindo. Em 2001 houve uma nova formação de grupo, mas o cd saiu com poucas músicas e nenhum integrante da de 1982, a não ser o próprio mestre Aguilar, que agitou tudo isso. O disco de 1982, chamado Aguilar e a Banda Performática traz 9 canções feitas coletivamente, abaixo a letra de Estranheleza, de Arnaldo, cantada no cd por ele e Go, sua namorada na época. Além disso, o material abre com a faixa Você escolheu errado seu super-herói e fecha com a homenagem ao muso Oiticcica: Parangolé. As faixas são manuscritas no encarte do disco, tudo é artesanal, independente, criativo e singular na sua proposta de unir canção poema declamação e pintura. A Banda Performática de Aguilar é uma re-visitação as intenções tropicalistas. E é genial!

Pétala de flor na bochecha,
Se enfeita, na mata, a menina preta.
Fanta-uva, doce corante,
Sou feliz, no pé verniz diamante.
Eê, êe,Eieiei iê,Eieiei iê eê,Eê eê!
Em Saturno há tempestades douradas;
No céu (no CÉU) eu tenho dez namoradas.
Tanta estranheleza me encanta,
Santa mulher com pele de planta.
Eê, língua de macaco ê,Eê, perna de serpente ê.
Miss mistério no stereo do som
Pérola, tudo tambor tão bom

quinta-feira, dezembro 22, 2005

TIME CAMPEÃO


Essa foto é um encontro da finaflor do lácio da poesia brasileira. Basta contemplá-la, ela já se escreve sozinha. Eu quero vestir uma camiseta com essa foto.

domingo, dezembro 18, 2005

PALCO E POETA


No dia 15 de dezembro de 2005, o poeta Diego Petrarca sobe ao palco do teatro São Pedro, para receber o prêmio de destaque na categoria In-Versus do Habitasul Revelção Literária na Feira do Livro, junto com outros vencedores. O livro com os textos premiados foi lançado nesse mesmo dia. O poeta Diego foi destaque com o poema Verbena, além de embolsar um dinheiro.

segunda-feira, dezembro 12, 2005

IN-VERSUS



O poeta Diego C. Petrarca foi um dos vencedores do Revelação Literária Palco Habitasul de 2005, pelo destaque no gênero In-Vresus (poesia). Este ano o concurso foi muito disputado, com inúmeros trabalhos em todas as categorias. Dia 15 de dezembro terá a premiação, no Teatro São Pedro, onde será lançada a antologia dos autores vencedores pela Artes & Ofícios. Confira.

http://www.cpovo.net/jornal/A111/N72/HTML/16NOITE9.htm

sexta-feira, dezembro 09, 2005

LUVAS DE PELICA



Ainda da série primeiras edições: esse é o original de Luvas de Pelica, livro independente que Ana Cristina Cesar lançou na Inglaterra, em 1980, quando cursava sua pós em tradução trabalhando num poema de Silvia Plath. Luvas de Pelica foi reeditado juntos com os 2 livros anteriores, em 1998, quando foi reeditado também seu primeiro livro: A teus pés.

quarta-feira, dezembro 07, 2005

ANSEIOS CRÍTICOS


Ensaios Críticos, Anseios Crípticos




O paranaense Paulo Leminski saiu da cena da literatura brasileira há quase quinze anos, mas ainda podemos perceber sua contribuição não apenas para a poesia pós-moderna como também para a teoria literária. Sabe-se muito do poeta Leminski, que começou publicando em 1975 um antiromance escrito em prosa poética ou, como ele mesmo dizia, em proesia, influenciado pela inovação de linguagem através da palavra montagem lançada por Joyce em Finnegans Wake. Depois Leminski publicou poesia, livros como Não fosse isso, Caprichos e Relaxos, Distraídos Venceremos, os póstumos La Via em Close, O Ex-Estranho. Escreveu também biografias como as de Cruz e Souza e Bashô, traduziu autores como Mishima e Jonh Lennon, esboçou novelas como Agora é que são elas, Guerra Dentro da Gente (infanto-juvenil), Gozo Fabuloso (inédita), fez inúmeras letras de música, introduziu a forma construtivista japonesa do haicai, assumiu a poesia visual fazendo verso na tela, no grafitti, no autdoor, na televisão, poesia sobre fotos e pinturas. Em sua produção poética foi modernista até o fim, incorporando como ninguém desde a grande ruptura de 22 até a poesia marginal dos anos 70. Paulo Leminski captou as mensagens mais básicas e vitais do modernismo brasileiro, que resultou uma poética afiada com a linguagem do seu tempo, através da síntese, da ironia, adicionadas a uma inclinação de poesia concreta à geléia geral do tropicalismo.
Além de tudo isso, Leminski fez também teoria literária. O livro Ensaios Crípticos, lançado em 1986, reúne uma compilação de textos teóricos sobre poesia, arte e literatura organizados pelo poeta e sua ex-mulher, também poeta, Alice Ruiz. Nesse livro Leminski apresenta-se como grande conhecedor da nossa história literária através de um texto leve e didático, informativo, diferente do que se costuma ler em teoria literária, quando a linguagem se faz acadêmica e dificultosa. O fato de esses textos estarem longe de um academicismo, não compromete a contribuição de Leminski para crítica literária. Em tom de crônica, de ensaio, de texto para sala de aula, Ensaios Crípticos revela um autor que, além de poeta inventor, foi também informado refletindo sobre o andamento da literatura brasileira e das artes que a ela estão relacionadas.
Um dos textos desse compilado teórico de Leminski é Teses, Tesões. Nesse texto, o autor de Catatau expõe uma comparação entre as práticas poéticas anteriores e posteriores ao ano de 1922, explosão e surgimento da poesia moderna liderada por Oswald e Mário de Andrade. Escreve Leminski na abertura do texto: "Com o modernismo de 22, o poeta brasileiro largou de ser aquele bom selvagem, doce bárbaro, indígena silvícola, nativo do país da linguagem, a ser estudado, pensado e falado por esses etnólogos vindos das poderosas regiões da Teoria, caras pálidas, que hoje chamamos críticos". Na abertura do texto, o poeta atenta ao fato de que, antes da ruptura antropófaga, o poeta poetava e o crítico criticava, teorizava a respeito do poema. A verdade é que Paulo Leminski estava certo, nenhum poeta brasileiro significativo do século XIX pensava o exercício da reflexão sobre o fazer poético. No modernismo de 22, a poesia veio calcada de teoria, e só passou a existir devido ao esforço teórico de seus autores para consolidar suas propostas de vanguarda importada do modelo europeu via Oswald de Andrade. Toda proposta desse autor nasceu colada em teoria, quase complemento do que fazia em literatura: Manifesto Antropófago, Poesia Pau-Brasil, todas suas revoluções de forma e conteúdo trouxeram junto a necessidade da teorização, da explicação das propostas. Leminski ainda aponta que Mário de Andrade, outro líder modernista, chegava a ter a contribuição da sua poesia quase esmagada pela teorização, sobre escrever sobre a ação poética, havia força e novidade tanto em sua literatura desvairada quanto na sua crítica bem aplicada: "toda tentativa de mudança exige reflexão, é preciso repensar a rota" afirma o teórico Leminski, que compara os poetas anteriores ao ano de 22 como sonâmbulos que seguiam os automatismos da tradição herdada dos modismos: "A poesia era uma resposta, 22 a devolveu a sua condição de pergunta". No mesmo artigo Leminski ainda fala em Drummond, quando o poeta mineiro lançou em 1930 seu primeiro livro Alguma Poesia, o grande herdeiro das riquezas do modernismo brasileiro incorporou a reflexão ao fazer poético, de forma explícita, e boa parte da produção do Itabirano consiste nessa reflexão: "lutar com palavras / é uma luta vã...".
A grande questão que Paulo Leminski aborda em seu texto é que o grande desafio está em definir a poesia depois das conquistas modernistas, considerando o fato de que não se sabe mais onde está a poesia ou para onde ela vai. Em que consiste afinal esse ato discursivo lógico/não-lógico em que toda liberdade é cabível? Onde está, afinal, o sentido? Para tanto, Leminski se apropria das definições de alguns poetas consideráveis da nossa literatura que atuaram justamente nessa época em que o dilema poesia se estabeleceu após o modernismo. Quem não reflete, repete. Para Vinícius de Moraes a poesia tem sentido na audição: música popular; para João Cabral de Mello Neto: na visão, arquitetura, arte plástica. A poesia concreta recupera Cabral e gera um campo mais amplo, rigoroso e radical do que o Modernismo, a teoria é valorizada e até mesmo não faltou quem dissesse que, na poesia concretista, faltou poesia e sobrou teoria. Leminski, ao falar da sua produção, afirma ter sentido a necessidade de reflexão, pois atrás dele estava todo um exemplo de modernidade, de Oswald até o Concretismo, em meados dos anos 60 e 70 não havia mais espaço ao "bardo ingênuo e puro" e inovação e comunicação (duas tendências irreconciliáveis) eram essenciais a uma prática poética agora pós-moderna. Não está errada a idéia de que tudo o que veio depois do modernismo Oswald/Concretismo em poesia brasileira parece dialogar e exercitar todas as aberturas permitidas pelas poéticas anteriores. A possível contribuição da poesia pós-moderna talvez tenha sido assumir e consolidar a confluência das práticas modernas, assumidamente heterogênea e libertária. O exemplo disso é a própria poesia de Leminski, ao mesmo tempo Oswaldiana e concreta, filtrada pela síntese do haicai. Como disse ele: "Preferi apresentar no espaço-tempo de um só livro, o panorama de um pensamento mundano". Muitos poetas, por estarem cientes da necessidade de reflexão para a busca de inovação ou mesmo para a compreensão despretensiosa de uma poética, tornam-se não mais poetas, mas teóricos, professores de literatura, críticos.
Paulo Leminski foi de fato um poeta notável, por vislumbrar a necessidade de uma reflexão e conseguir fazê-la no livro Ensaios Críticos, paralelamente a sua produção poética.



Texto publicado no site da revista virtual Pálavora, da Uniritter, em junho de 2004.

CENAS DE ABRIL

Acervo Waldemar Corrêa



Dando seguimento aos livros independentes de Ana C. Este é o original de Cenas de Abril, lamçado em 1979, primeiro livro publicado pela autora carioca. E linda! Ana C. ainda publicou em 1980, na Inglaterra, Luvas de Pelica, em breve por aqui.

A Ponto de Partir

A ponto de
partir, já sei
que nossos olhos
sorriam para sempre
na distância.
Parece pouco?
Chão de sal grosso,
e ouro que se racha.
A ponto de partir, já sei que nossos olhos sorriem na distância.
Lentes escuríssimas sob os pilotis.

quarta-feira, novembro 30, 2005

A TEUS PÉS, ANA C


Foto tirada do acervo de Waldemar Corrêa



Livro de estréia da poeta carioca Ana Cristina Cesar, lançado originalmente em 1982. O volume inclui os três título anteriores que a autora editou, de forma independente, entre 1979 e 1980. Essa é a primeira edição, lançada pela editora brasiliense, que abrigou boa parte dos poetas marginais dos anos 70, onde Ana C. se destaca com propriedade, por ser uma das poucas autoras do sexo feminino, com uma poesia excitante, de tão boa. Os livros alternativos de ana Cristina, incluídos nessa edição são: Cenas de abril, Correspondência Completa, de 1979, e Luvas de Pelica, editado na Inglaterra em 1980, quando a poeta escrevia sua tese de mestrado, a segunda, sobre a tradução de um poema da escritora Sylvia Plath. Ana Cristina escrevia também ensaios sobre literatura, formou-se em teoria literária, sua tese sobre a filmagem de Joaquim Pero de Andrade do livro modernista de Mário de Andrade Macunaíma, intitulada Literatura Não é Documento, norte da sua pesquisa orientada por Heloísa Buarque de Holanda em 1978, foi lançada em livro. Em 1998, através do poeta eamigo pessoal de Ana Cristina, Armando Freitas Filho, o livro A teus pés, foi reeditado, e depois vieram Inéditos e Dispersos (poemas póstumos) Correspondência Incompleta (cartas). Existe também os livros de ensaio, Escritos no rio, de 1993, e escritos na Inglaterra, onde se vê uma poeta destacando-se também como ensaísta, clara e coerente. Ana Cristina suicidou-se em 29 de outubro de 1983, atirando-se do sétimo andar do seu prédio em copacabana, no Rio de Janeiro. Era linda, e escrevia poesia como poucos, e imprimiu na literatura brasileira pós moderna uma marca, um estilo, que muitos percorrem. Ela que veio do seio da poesia marginal, superou essa moda e distanciou-se muito delas que, muitas vezes, pretendia apenas instantes diretos e espontanêos do cotidiano. A poesia de Ana C. foi além. Minha vida um dia irá além para encontrá-la.


é muito claro
amor
bateu
para ficar
nesta varanda descoberta
a anoitecer sobre a cidade
em construção
sobre a pequena constrição
no teu peito
angústia de felicidade
luzes de automóveis
riscando o tempo
canteiros de obras
em repouso recuo
súbito da trama

terça-feira, novembro 29, 2005

MANUEL BANDEIRA


Auto-retrato Provinciano que nunca soube
Escolher bem uma gravata;
Pernambucano a quem repugna
A faca do pernambucano;
Poeta ruim que na arte da prosa
Envelheceu na infância da arte,
E até mesmo escrevendo crônicas
Ficou cronista de província;
Arquiteto falhado, músicoFalhado (engoliu um dia
Um piano, mas o teclado
Ficou de fora); sem família,
Religião ou filosofia;
Mal tendo a inquietação de espírito
Que vem do sobrenatural,
E em matéria de profissão
Um tísico profissional.