domingo, julho 20, 2008

NICOLAS BEHR





Se eu tivesse que dizer como gostaria de ler ou escrever um poema nos dias de hoje, não hesitaria: Não adianta colocar o poema num carro alegórico. Todos vão ver o carro alegórico. Eu gosto do estilo claro, limpo, direto. Sem rodeios, às vezes até sem poesia. Mas essas palavras não são minhas, são de Nicolas Behr, poeta que lançou ano passado pela editora Língua Geral o livro Laranja Seleta, que reúne o mel do melhor da sua produção poética iniciada em 1978, com o livro mimeografado Iogurte com Farinha.

Laranja Seleta é o primeiro livro de Nicolas Behr que saiu por editora convencional, uma antologia que percorre toda sua poesia espalhada nos livros que Nicolas produziu de forma independente, por vezes mimeógrafo, livros artesanais, ou edições mais caprichadas em baixas tiragens. É possível, na leitura de Laranja Seleta, perceber o fôlego do poeta ao longo dessas últimas décadas. Sua produção vai longe e corresponde ao número de livros editados: entre 1977 e 2006 são cerca de vinte e poucos livros, sem contar as antologias que reuniram todos esses livros independentes num só, como Restos Mortais, de 1980, que reúne os livros Iogurte com farinha, Grande circular, Caroço de goiaba, Chá com porrada e Bagaço, lançados entre 1977 e 1979. Vinde a mim as palavrinhas, de 2005, reúne os livros Com a boca na botija, Perto do dia, Elevador de serviço, Põe sai nisso!, Entre quadras, Brasiléia desvairada, Saída de emergência, Kruh, 303F415, L2 noves fora W3, lançados entre 1979 e 1980.

Em Primeira Pessoa, 2005, a produção de Nicolas Behr nos anos noventa aparece em Porque construí Braxília, Beijo de hiena, Pelas lanchonetes dos casais felizes, Segredo secreto, Viver deveria bastar, este último de 2001. Dos livros mais recentes, estão Umbigo, Menino diamantino, Peregrino do estranho, Braxília revisitada e Introdução à dendrolatria, além de livros inéditos.

No prefácio de Laranja Seleta, Francisco Alvim aponta que a poesia de Nicolas está sempre em movimento, isto é, Nicolas é o poeta do sujeito que se move de um ponto em direção ao outro. Além disso, destaca-se também a despretensão da linguagem de Nicolas ao pensar a poesia também presente fora do poema. É desse modo que clareza e coloquialismo dispensam o poema hermético, rebuscado, que exige esforço e elaboração mental para a captação de uma imagem. Nicolas Behr consegue a instância do poético pela frase direta, tornando nítida a poesia daquela frase absurdamente fácil apenas por estar inserida num poema, isto é, o poema brilha também da constatação da simplicidade e não somente desse simples transformado forçosamente num efeito cerebral.

Essa maneira despojada de tratar a poesia está relacionada ao tempo em que Nicolas pensou e escreveu sua poesia. É perceptível o eco da literatura marginal dos anos setenta, de Chacal, Cacaso, do próprio Francisco Alvim, de Ana Cristina César e Wally Salomão. Todos esses que trazem de volta e mais escancarada a escrita aberta e despojada de Oswald de Andrade. Nicolas Behr é representante também desse modo de pensar a poesia via literatura marginal, embora o próprio brinque com isso no texto de abertura de Laranja Seleta: Poeta marginal? Eu, hein? Mas essa conquista de trazer a tona o coloquial e a clareza colaborando com da qualidade do discurso poético, são reconhecidamente méritos da geração anos 70 na qual Nicolas Behr transitou, firmando sua poesia.

Outra característica singular de Nicolas é a referência à cidade de Brasília, onde mora até hoje embora tenha nascido em Cuiabá, como algo constante em sua produção. Na poesia de Nicolas Behr Brasília é quase um signo, um ideal temático. Os livros Brasiléia desvairada, de1979, Porque construí Braxília, de 1993 são exemplos disso, a ponto de terem gerado a coletânea Poesília – Poesia Pau-Brasília, de 2002. A cidade de Brasília criou uma categoria na poesia de Nicolas e também na poesia brasileira contemporânea, afinal Nicolas inaugura uma abordagem consistente sobre a cidade fabricada e hoje a capital do País. Além de toda a simbologia que a cidade representa, Nicolas alegoriza do seu modo (na expressão Braxília, por exemplo) em sua maneira de se relacionar com a cidade pela ótica atual, desde a promessa de felicidade e a realidade que hoje Brasília apresenta.

Entre os inúmeros poemas tendo Brasília como tema nos aspectos urbanos, o seu desenho, a dureza da sua geometria e espacialização, está uma relação íntima do sujeito e a cidade:

Brasília é a incapacidade
do contato afetivo
entre a laje e o concreto

Ou ainda:

a cidade é isso mesmo
mesmo que você
não esteja vendo nada

A poesia de Nicolas Behr, agora reunida em Laranja Seleta, vem contentar os leitores que buscam uma poesia com a língua de hoje, no mínimo apontando um caminho de se dizer/escrever o poema desse tempo, sem perder a clareza e objetividade poética assim como a capacidade que um poema pode ter de comunicar mais que dificultar seu entendimento. É o próprio poeta Nicolas quem nos diz: Uma poesia fácil, me disseram. Na verdade, foi o maior elogio que já recebi.



*Esse texto está publicado no site abaixo, assim como uma entrevista com Nicolas Behr

quinta-feira, julho 03, 2008

NO MENINO DEUS

O jornal Oi! publicou uma crônica sobre o bairro Menino Deus, dia 26 de junho de 2008. Confira clicando sobre a imagem abaixo. Se preferir, a crônica está no site do jornal:
http://www.jornaloi.com.br/



sexta-feira, junho 20, 2008

PROGRAMA DE RÁDIO É LITERATURA

Diego Petrarca e a equipe que comandou a cerimônia de premiação dos 2 concursos


No dia 18 de junho, as 19:30, no teatro Túlio Piva, em Porto Alegre, foi a cerimônia de entrega dos concursos Histórias de Trabalho e Poemas no Ônibus, enevtos literários tradicionais promovidos pela Secretaria de Cultura do Município. Diego Petrarca está presente nas duas antologias (Histórias de Trabalho, 14 edição, e Poemas no ônibus, 16 edição) com os poemas Descrição da Dançarina e Mais que a Sede, respectivamente.


A cerimônia de entrega contou com a participação do Secretário da Cultura Sérgius Gonzaga, entrevistado por Fabio Godoh e Marcelo Noah, que comandaram a entrega dos prêmios com um formato de programa de rádio, chamando os vencedoras ao palco e intercalando com falas espertas sobre literatura e poesia. O locutor da rádio ipanema integrou a equipe, juntamente com as inserções musicais divinas maravilhosas do Maestro Vargas e o canto da moça que o acompanhava: juntos, cantaram Marina e Felicidade. Momento lindo!


Fabiano Gummo comandou a produção do espetáculo, luzes e cenário, e uma linda menina vestida de dourado entregava aos vencedores seus prêmios a medida em que eram chamados no palco.


Para mim, especialmente, foi muito bom participar de um evento comandado pelos meus amigos Fabio e Marcelo, além da participação de outro amigo, Felipe Vargas. De certo modo, mais que premiação e o aproveitamento dos poemeus nos livros que referem a concursos literários estabelecidos na cidade, foi poder dividir isso com esses amigos de longa data, pessoas que me identifico identificando neles minha própria paixão pela literatura, essa coincidência me foi a grande celebração desse dia, absolutamente. Fabio e Marcelo destacaram minha participação nos dois concursos, ressaltando minha atividade poética, além de simpáticas referências a meu nome (mais carinhosas que necessariamente reias) no decorrer da cerimônia. Eu sempre acredito neles.


A partir de agosto, o poema Mais que a Sede estará circulando nos coletivos da cidade. Interessante a idéia do poema-cartaz, editada na janela de um ônibus, numa leitura em movimento, um livro-poema-pôster. E a antologia Histórias de Trabalho (poema pág.141) está editada, para adquirir seu exemplar, a Livraria Ilhota, da Coordenação do Livro e da Literatura tem para vender, assim como a antologia dos Poemas do Ônibus, 16 edição.




sexta-feira, junho 06, 2008

ABDUÇÃO DA TEIA



O grupo Teia de Poesia foi abduzido nessa quarta feira na Livraria Cultura pelos Poets, após o show com o novo repertório da banda, o grupo subiu ao palco e disse seus poemas. Diego Petrarca apresentou sua série sobre Cidade, Telma Scherer leu poemas do livro O Rumor da Casa e Lorenzo Ribas mostrou parte do livro O Cáctus e Outros Poemas

KLAXON & POLONAISES


Uma raridade entre as raridades encontradas na biblioteca de Haroldo de Campos, localizada na Casas Das Rosas em São Paulo. Parte do acervo do poeta está guardado lá, um dos primeiros livros de Leminski, publicado artesanalmente em 1980, não poderia faltar. Merece esse registro. Assim como a Revista Klaxon, dos Modernistas de 22. Raridades máximas.




AGUILAR, QUAL É A TRANSA?

Marcamos com Aguilar no domingo, 13:30 da tarde. Chovia em São Paulo enquanto atravessávamos a avenida paulista, descendo a rua atrás do Masp em direção a casa de Aguilar. Fomos recebidos pelo grande artista performático e pré-formático e seu cão Baskea. Ficamos na sala junto aos enormes quadros das cores vibrantes do traço de Aguilar. Ele nos mostrava seus livros, me presenteou com o vinil da primeira formação da Banda Performática, de 1982, quando a equipe era formada por Arnaldo Antunes, Lanny Gordin, entre outros.

Aguilar nos apresentou seu acervo raro de performances dos anos 80, como o concerto em que tocava piano com luvas de boxe, e Arnaldo Antunes e Go com extintores de incêndio. Também nos mostrou uma entrevista recente em que acabou por responder boa parte das perguntas que eu havia preparado. O vídeo caseiro em que Aguilar filma Arnaldo Antunes na casa azul (onde moravam no início dos naos 80) dentro de uma banheira cheia com papéis boiando e dizendo poemas com a artista plástica Go cantando ao fundo, foi uma surpresa genial. Depois das exibições de vídeo Aguilar sentou, acendeu seu cigarro e falou com a gente sobre Hélio Oiticcica, Jorge Mautner, José Agrippino de Paula, e outros nomes.

Descobri que sua primeira atividade artística não era a de pintor nem performer, como imaginei, mas a de escritor, e mais ainda: de poeta. Aguilar iniciou como poeta, e de modo violento: destinando sua produção a fogueira. Perguntei sobre suas influências criativas, seus novos projetos. Sempre um despojamento ao falar e ao perceber nossas curiosidades, Aguilar agitou a cena cultural paulistana a partir dos anos 80, seus discos com a Banda Performática é um projeto de uma vitalidade musical/plástica/poética espantosa, e as apresentações deixam clara a proposta nonsense aliada a cores, vozes, sons e ruídos. As canções dos discos da banda são peças cênicas, o canto de Aguilar é a récita de um discursso poético, fala do canto que grita, entre outras frases estandartes: qual é a transa?!


Depois Aguliar nos convidou para irmos até seu Ateliê e nos apresentou sua nova série de quadros e no presenteou com o cd da recente formação da Banda Performática. Outra das nossas visitas planejedas, conhecer Aguilar é entender que a obra de arte é tinta tela fala som corpo num único organismo explodindo juntos, e que o risco é ponto de partida para a invenção. Portanto, nunca poderei deixar de perguntar: Aguilar, qual é a Transa?

quinta-feira, junho 05, 2008

AUGUSTO DE CAMPOS







Um dos nossos objetivos em São Paulo foi visitar o poeta Augusto de Campos. Marquei com ele aqui em Porto Alegre algumas semanas antes de nossa ida. No dia 02 de junho, segunda feira, fomos recebidos por volta das 17:30 em seu apartamento no bairro Perdizes. Conversamos por volta de três a quatro horas, esperávamos menos tempo, mas a conversa foi se estendendo a medida que nossa empolgação ia sugerindo outras pautas. Augusto nos deixou muito a vontade, já imaginava como seria sua recepção, um cuidado em nos deixar mais tranqüilos perante a sua presença ali, sentado conosco em sua sala. Falamos de literatura, música, Lupicínio RodriguesTropicalismoHaroldo de Campos e, evidentemente, de poesia e concretismo. E muitas outras coisas que surgiam a partir disso.

Havíamos feito, Lorenzo e eu, um repertório de assuntos, em parte obedecemos esse repertório, por outro lado deixamos esse programa de lado, reconhecendo-o dispensável perante as abordagens de Augusto que, a medida que falava, ia respondendo aqueles itens. Saímos satisfeitos em conhecer um poeta-referência que em nenhum momento mencionou abreviar nossa conversa movido por alguma pressa, ao contrário, percebíamos nele uma vontade em estar ali falando de sua obra e seus temas preferidos para dois jovens interessados nele e no objeto de seus assuntos.




Eu sempre tendo a considerar insuficiente meu desempenho em encontros como este, mas estávamos Lorenzo e eu conscientes de algo que Augusto nos passava naquela hora, prazer descontraído na conversa que em momento algum deixou a formalidade atrapalhar a fluidez das nossas falas. Saímos do apartamento já prometendo nova visita, meu beijo no rosto de Augusto talvez fosse a maneira de agradecer aquela abertura: a honestidade de um poeta dividindo com seus admiradores parte de sua paixão. Essas coisas ajudam a acreditar. São Paulo nunca me pareceu tão fundamental como naquelas horas junto a Augusto. Saímos de lá depois de 3 três horas com a sensação de que ainda era cedo.







quarta-feira, maio 28, 2008

OFICINA DE POESIA





Oficina de Poesia com Diego Petrarca, Concurso Histórias de Trabalho. Maiores informações na Coordenação do Livro, Centro Municipal de Cultura.





sábado, maio 24, 2008

TEIA EM 2008


Foto Eva Benites


O Gupo Teia de Poesia retoma as atividades poéticas em 2008 com sua habitual marca:
O Sarau Aberto. Na Casa de Cultura Mario Quintana, agende-se:

- 24 de abril Barra 68 - A produção poética do explosivo ano e 68 no Brasil e no mundo. Lançamento do Sarau Aberto Teia de Poesia 2008 e da primeira edição da Revista Pôster.

- 19 de junho - Tropicália - Sarau sonoro e bananas ao vento, os 40 anos do Tropicalismo.

- 14 de agosto - Contragosto - Para quem não gosta do bom gosto: poesia da contracultura.

- 16 de outubro - 40 anos sem Pasárgada - Sarau temático sobre Manuel Bandeira.

- 11 de dezembro - Folia & Tinta Fresca - Sarau espetáculo na Travessa dos cataventos.


Dia 04 de junho, o Teia de Poesia será abduzido na livraria Cultura pelos Poets.

Ainda no mês de junho, a livraria Saraiva recebe o Teia de Poesia nos dias 07, no Papos e Idéias: Camões Caiu na Teia e dia 11, o Teia apresenta Toda Forma de Amor Vale a Pena, Papos e Idéias do dia dos namorados.

E mais virá ao longo do ano. Teia de Poesia, porque a poesia não é um meio de vida mas um modo de vida.

quinta-feira, abril 17, 2008

quarta-feira, março 26, 2008

PORTO DÁ POESIA

O Grupo Teia de Poesia esteve no Centro Cultural Erico Verissimo nessa quarta feira, para integrar o evento do Porto Dá Poesia comemorando o aniversário de Porto Alegre. O nome do evento Gritos e Sussurros no Muro da Mauá relembrou a trajetória do grupo desde a sua formação, em 2002. Confira a divulgação no site Click RBS.



terça-feira, março 11, 2008

TEIA NA FESTIPOA

Confira a Teia de Poesia no evento FestiPOA Literária, agora no finalzinho de março.



DIA 27 – QUINTA-FEIRA:- 16hs - LIVRARIA NOVA ROMA
ABERTURA DA FESTIPOA: DONALDO SCHÜLLER.Em seguida, LUIS AUGUSTO FISCHER, PAULO SCOTT, FABRÍCIO CARPINEJAR e MARCELINO FREIRE (convidados especiais da FestiPoa Literária) conversam com DONALDO SCHÜLLER.
A partir das 15hs coquetel.
- 1730hs — SARAU: MARCELINO FREIRE E FABRÍCIO CARPINEJAR


18hs — DEDÉ RIBEIRO conversa com DIEGO PETRARCA, BIER, CARLOS BESEN, LORENZO RIBAS E TELMA SCHERER.

sábado, março 08, 2008

MAIS QUE A SEDE NO ÔNIBUS






O poema acima, Mais que a Sede, de Diego Petrarca, foi premiado no concurso Poemas no Ônibus, organizado pela prefeitura de Porto Alegre. Os poemas são colados na janela do coletivo, os passageiros podem ler enquanto passeiam pela cidade. O concurso já é uma tradição poética de Porto Alegre.


A antologia com os vencedores será lançada em julho na Usina do Gasômetro, junto com outra antologia, Histórias de Trabalho, concurso promovido também pela prefeitura, onde os autores escrevem sobre o tema trabalho. Diego Petrarca participa com o poema Descrição da Dançarina.
Duas antologias, dois concursos, dois poemas. Em julho.




quinta-feira, fevereiro 07, 2008

NO MENINO DEUS



Uma década e mais no Menino Deus

O bairro Menino Deus me acompanha desde pequeno. O apartamento da minha avó, na Avenida Ganzo, era nosso programa dos finais de semana. As tardes eram percebidas da janela da sala e garantiam a beleza daqueles domingos. Lembro de minha mãe pondo na vitrola o vinil de Roberto Carlos, tardes musicais e iluminadas do verde cultivado das rosas dos jardins da Ganzo. Toda aquela paz combinava com o Menino Deus e era absorvida pela convivência familiar. Tardes tão iguais atravessando o corredor do apartamento da dona Elcy, minha avó. Lembro que eu me perguntava, no alto dos meus seis, oito anos, quem era o Menino Deus? Como um Deus poderia ser menino? Depois descobri que um dos meu autores preferidos, Caio Fernando Abreu, morava no bairro, na Rua Oscar Bittencourt, o poeta simbolista do nosso Estado, Eduardo Guimaraens, também morou no Menino Deus e o meu artista favorito, Caetano Veloso, fez uma bela canção sobre o bairro nos anos 80. Tudo isso fortaleceu meu processo de identificação com esse bairro, e posso garantir que a formação da minha personalidade foi muito definida a partir da minha relação e convivência com esse lugar, vizinho do Centro e da Cidade Baixa, que existe em mim como uma promessa de futuro e felicidade. Nasci e cresci na Zona Sul, mas desde sempre convivi com o bairro indo visitar minha vó, passando os dias com minha família. O Menino Deus desde cedo me veio como uma outra possibilidade de morada, parecia já estar insinuada uma realidade mais profunda com o bairro. Hoje em dia já estabeleci uma harmonia com as ruas, o pôr-do-sol estendido na grama do Parque Marinha, as caminhadas pelas calçadas silenciosas, a Praça Menino Deus, os cafés da Getúlio Vargas, o Grêmio Literário Castro Alves, o espaço Engenho e Arte (a forma que a poesia encontra de morar no Menino Deus), o verde que avança à medida que o olhar alcança a paisagem, o sol contornando a altura dos prédios cercando as ruas, e a Avenida Ganzo concentrando o contentamento encantado, um sentimento profundo, uma alegria íntima e uma felicidade que o Menino Deus me representa. Porto Alegre mais de perto. Como se o bairro instaurasse tranqüilidade e uma crença pelas coisas simples mas totalmente visíveis ao andar por seus lugares. Quando entrei para a faculdade no curso de Letras, em 1998, vim morar na Ganzo. Já conto uma década no Menino Deus e foi inevitável não desejar escrever alguma coisa, algo que cresce no meu coração quando ando pelas Ganzo, Bastian, Múcio Teixeira, na fotografia parda das noites do bairro, no colo das manhãs desse azul que o Menino Deus renova, matéria da leveza que me traz, me faz capaz de ser feliz: nascente daquilo que só me diz. Em nome da minha família, da minha avó, da minha história de vida, dos meus dias no Menino Deus.

Publicado no suplemento ZH Menino Deus - 07/02/08
* Para ler o texto no site do jornal, clique no título do post.

segunda-feira, fevereiro 04, 2008

VIDEO DE BEATRIZ

Foto da apresentação no Teatro São Pedro

Está aí o vídeo-síntese do espetáculo Beatriz - A beleza e a Tristeza, que ganhou o prêmio Palcoabitasul de montagem cênica, em 2007. Baseado nos poemas Cabelos Molhados (de Diego Petrarca), Domingo (Gerusa Marques) e no conto A Beleza e a Tristeza (Jeferson Tenorio). Estes textos foram contemplados com o prêmio Palcohabitasul Revelação Literária na Feira do Livro de 2006 e deram base ao espetáculo brilhantemente encenado pela atriz e dançarina Fernanda Carvalho Leite. Eis aí o vídeo pra quem não viu no dia 15 de dezembro de 2007 a estréia no teatro São Pedro. De 22 de fevereiro a 16 de março, o espetáculo volta em cartaz no Gasômetro, dentro do Porto Verão Alegre, é só conferir.


terça-feira, janeiro 29, 2008

AS COISAS DA POESIA



O livro As Coisasde Arnaldo Antunes, saiu em 1992, foi seu terceiro livro de poemas, os dois primeiros foram lançados quando Arnaldo ainda estava no Titãs, se não me engano, a época de lançamento de As Coisas coincidiu com a notícia de sua saída da banda para carreira solo, logo em 1993, ele lançaria Nomes, reunindo disco/vhs e livro.

Relendo esse livro percebi mais clara a proposta de Arnaldo: tornar poético aquilo que, num primeiro olhar, soa óbvio, evidente. Mas justamente por aí que está o achado poético: a forma como o que se tem como óbvio se manifesta na linguagem. Ou aquilo que está estabelecido como óbvio pode ser invertido pela liberdade que o poema permite.
Se não está claro, recorremos ao próprio:

"É um livro diferente dos outros, que de certa forma eram meio coletâneas da produção poética que eu vinha fazendo. As Coisas tem uma intenção a priori, foi feito a partir de um conceito anterior. Eu tive a idéia de escrever com esse tom bem primário, quase infantil de raciocinar acerca dos objetos, do mar, das cores, da montanha. Esse livro é um híbrido entre poesia e prosa. A intenção era fazer essas pequenas ‘prosas’, destituídas de narratividade. São quase reflexões ou descrições de objetos. […] Não acho que os temas são infantis. São temas do cotidiano. O que é infantil é a maneira de raciocinar sobre essas coisas, de formular associações, especulações sobre as coisas. […] O que há de singular nele é a intenção de fazer com que a obviedade alcance a estranheza".






O que me ficou claro é que olhar infantil sobre as coisas lança um outro conceito da coisa, isto é, recicla a conclusão das coisas a partir do que elas parecem, pela proximidade, similaridade, que é justamente de onde parte o olhar poético: a aproximação da coisa sem dizer a coisa. Esse livre olhar renova e amplia o conceito original daquilo que se descreve e deixa dito que a poesia, o poético e seus efeitos iluminados que comovem e dão o prazer da leitura, passam por essa aparente simplicidade de pensamento, de vocábulo e construção de linguagem. O simples produz o inusitado, des-inventa re-inventando o poema.

As Coisas virou canção, assim como outros poemas do livro. Gil musicou As Coisas (Arnaldo a regravou no seu cd de 2006, Qualquer) antes estava apenas no disco genial que celebrou os 25 anos da Tropicália: Tropicália 2. E Jorge Ben musicou Dinheiro e As árvores (Arnaldo gravou no seu cd de 1998, Um Som).

segunda-feira, janeiro 28, 2008

AO MENOS


O poema Ao menos saiu em ZH dia 28/01. Ficou desse jeito: discursivo. Este é um dos primeiros poemas escritos nesse 2008 que começa.










quarta-feira, dezembro 12, 2007

AO VIVO NO ESTÚDIO


Arnaldo Antunes está de disco novo. E aproveita o embalo do seu disco do ano passado, Qualquer, para lançar o seu primeiro DVD: Arnaldo Antunes Ao Vivo no Estúdio. Gravado em agosto de 2007, o disco, acompanhado do DVD do show, é a reprodução dessa apresentação. O interessante é que Arnaldo Antunes reuniu uma platéia pequena de 50 pessoas dentro do estúdio, como se fosse um show, e gravou tudo na hora. Ver esse show é uma grande delícia: ARnaldo cantando cada vez mais lindo, valorizando cada sílaba, cada letra de cada palavra de cada canção. Destaco Eu não sou da sua rua, junto com o co-autor Branco Mello, ex colega titã, assim como Não vou me adaptar, do disco de 1985, televisão, dos Titãs, junto com Nando Reis. A participação dos Tribalistas não poderia ficar de fora desse registro, o show termina com duas canções do repertório do disco de 2002, junto com Carlinhos e Marisa. Todas as canções são valorizadas e bem apresentadas, Arnaldo praticamente recita cada letra. Um deslumbramento, ouvir o disco é um convite pra ver o show, ver o show incita reouvir o disco, rever o show não é pedir demais. Quarto de dormir é uma canção inédita. Ando revendo muito o show, que ainda tem a fotografia em preto e branco, uma atmosfera nobre e simples. Abaixo, um texto de Arnaldo sobre o disco e o DVD.  Veja o show, e sinta a delícia de Arnaldo em voz, corpo e letra.

***
AO VIVO NO ESTÚDIO POR ARNALDO ANTUNES
Quando comecei a conceber o disco Qualquer, em 2006, tinha a intenção de gravá-lo num show, em DVD. Já era então um desejo antigo, mas como não pudemos viabilizar a tempo a produção para esse projeto, optei por gravar apenas o CD, em estúdio mas praticamente ao vivo, com todos os músicos tocando juntos, ao mesmo tempo.Qualquer foi lançado em setembro do ano passado e, em outubro, estreávamos o show. Adaptamos os arranjos do disco (todo gravado apenas com instrumentos de cordas e piano) para a formação de um trio, composto por Chico Salem (que também havia participado da gravação do disco), nos violões de aço e nylon; Betão Aguiar, na guitarra e violão de nylon, e Marcelo Jeneci, nos teclados e sanfona. Creio que conseguimos recriar a atmosfera do disco, com algumas novidades de timbres e levadas. Talvez a mais marcante delas seja a presença da sanfona e dos teclados elétricos, em lugar do piano.Aos poucos, a sonoridade foi ficando mais coesa, com os diálogos entre os instrumentos tecendo uma feição própria, de banda, o que me estimulava ainda mais a querer gravar o show em DVD. Além das músicas do Qualquer, rearranjamos várias outras de meu repertório, trazendo-as para esse contexto sonoro mais intimista, sem bateria ou percussão. Em algumas, mudei o tom em que havia gravado originalmente, para aproximá-las da forma de interpretação menos gritada, mais grave, na região mais natural da minha voz. Entraram O Silêncio, Saiba, Pedido de Casamento, Judiaria, Socorro, Se Tudo Pode Acontecer, Fim do Dia, entre outras (dos álbuns Ninguém, O Silêncio, Um Som, Paradeiro e Saiba), incluindo releituras de Não Vou Me Adaptar e O Pulso, canções de minha época nos Titãs.E ainda versões de Bandeira Branca (Max Nunes e Laércio Alves), que eu havia gravado para a trilha sonora do filme Gêmeas, a convite do diretor Andrucha Waddington, em 1999 (aqui mesclada, por uma certa conjunção poética, com O Buraco de Espelho), mas que não havia sido lançada em disco, e de Qualquer Coisa, de Caetano Veloso. Essa última escolha foi motivada pelo fato de eu estar fazendo um show intitulado Qualquer (assim como o CD), no qual há, além da faixa-título, uma música intitulada As Coisas (parceria minha com Gil, gravada por ele e Caetano em Tropicália 2 e regravada por mimno Qualquer), além de Socorro (parceria com Alice Ruiz), cujo refrão diz "Qualquer coisa que se sinta...".
Para mim, era como se o Qualquer Coisa do Caetano já estivesse sobrevoando e eu apenas decidisse deixar ele pousar. O caminho peculiar que o arranjo foi tomando nos ensaios, bem diferente da gravação de Caetano, também me animou a encarar essa releitura. Nunca tive tanto prazer em cantar como nesse show. A sonoridade se adequou muito bem à intenção que eu queria imprimir no canto, mais sereno, saboreando cada sílaba. O resultado parece evidenciar as próprias canções (e a compreensão mais clara das letras), sem perderuma vibração, inevitável para mim, na atitude como sou levado a me comportar no palco. Herança do rockn roll.
Após um ano de estrada com o show Qualquer por muitas cidades do Brasil, finalmente surgiu a oportunidade de registrá-lo em um DVD. Para nós era perfeito, pois tivemos tempo de ir aprimorando os arranjos, experimentando mudanças no roteiro, azeitando a máquina. Mas não queria fazer apenas mais um registro de turnê. Achava que essa era uma oportunidade de criar algo especial para a linguagem do vídeo. Aí pensamos em voltar para o estúdio e, invertendo a maneira como havíamos feito o disco (no estúdio mas ao vivo) propusemos gravar um show, com público, mas no estúdio (onde teríamos condições muito favoráveis de captação de som e imagem). O Mosh entrou na parceria, oferecendo a sala de seu estúdio A para a gravação, além de toda a estrutura para a finalização (mixagem, edição, masterização e autoração). Gravamos para uma pequena platéia de cinquenta pessoas, sentadas no chão do estúdio, ao nosso redor. A sala da técnica, separada da sala de gravação por um vidro, acabou fazendo parte da cena.
O show já tinha um vídeo, criado por Marcia Xavier e Doca Corbett, todo em preto e branco, que funcionava como um cenário em movimento, e os figurinos, criados por Marcelo Sommer, eram todos em diferentes tons de cinza. Como já tínhamos nos apegado a esse ambiente, muito adequado para o som que vínhamos fazendo, pensamos em produzir o DVD todo em preto e branco.
Para dirigir, chamei Tadeu Jungle, que já havia dirigido dois de meus clipes (Poder e O Silêncio) e com quem tinha há tempos o desejo de fazer um trabalho de mais fôlego em vídeo.
Propus trabalharmos com um conceito de luz e fotografia bem contrastadas, que se afastasse
da textura dos programas de televisão e se aproximasse da estética do cinema expressionista alemão do início do século passado. Convidamos Marieta Ferber para criar o cenário, que ficou bem bonito e apropriadoao clima que buscávamos. Como esse é meu primeiro DVD (e CD) gravado ao vivo, quis que ele fosse bem representativo de minha carreira, de uma maneira geral. Ampliei um pouco a panorâmica que o roteiro dá sobre o meu repertório, incluindo algumas outras canções, além de uma inédita (Quarto de Dormir, parceria minha com Marcelo Jeneci). E convidei para participarem alguns artistas amigos que foram importantes nesses 25 anos de carreira. Com Nando Reis cantei Não Vou Me Adaptar, que gravamos juntos com os Titãs (no disco Televisão e, posteriormente, no Go Back, ao vivo em Montreux) e que ele incluiu depois em seu repertório solo. Com Edgard Scandurra fiz Judiaria (de Lupicínio Rodrigues, que gravamos juntos no álbum Ninguém), quase toda apenas com voz e guitarra. Com Branco Mello cantei Eu Não Sou Da Sua Rua, parceria nossa dos anos 80, que havia sido gravada por Marisa Monte em 91 e que eu regravei no Qualquer. Com as presenças de Branco e de Nando estava bem representada minha fase nos Titãs. Com Edgard, parceiro que participou de todos meus discos; minha carreira solo. Faltava minha outra banda, Tribalistas. Carlinhos e Marisa atenderam ao meu chamado, e veio também Dadi, que gravara conosco, para fazermos duas músicas daquele repertório Um a Um e Velha Infância. O resultado está aí. Ao Vivo No Estúdio. Espero que quem veja e ouça se divirta tanto quanto nós, ao gravá-lo.
 

quarta-feira, dezembro 05, 2007

ROTEIRO


O poema Roteiro saiu impresso em Zero Hora dia 05/12. Pra quem não leu, confira por aqui.


domingo, novembro 18, 2007

OFICINA SOLTE O VERBO



No dia 13/11, terça-feira, aconteceu a cerimônia de entrega dos certificados da oficina de criação poética do projeto Solte o Verbo, do Centro Cultural Erico Veríssimo, ministrada nos meses de agosto e outubro por Lorenzo Ribas, Diego Petrarca e Telma Scherer. Na cerimônia foram lidos poemas das autoras/oficineiras e o lançamento de um livro-cardápio, com a impressão dos textos produzidos em aula.Os professores Mauricio Chemello e Robertson, que ministraram, respectivamente, oficina de Conto e de textos em Língua Inglesa, estavam presentes com seus alunos. A coordenadora do projeto Solte o Verbo, Sabrina Lindemann, também estava presente e foi quem clicou essa foto acima. Foi uma festa linda.